Presidente ou treinador

em Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 17 de junho de 2021

Heródoto Barbeiro (*)

Há uma tradição no Brasil de que bater o penalti em um jogo de futebol decisivo é tão importante que deveria ser feito pelo presidente do clube.

E que na Bahia há tanto santo ajudando os times que o campeonato acaba empatado. São afirmações consolidadas ao longo do tempo em campeonatos e na criatividade dos poetas dos microfones esportivos. Contudo não se aceita que o presidente da república interfira no time mais importante e icônico do país : a seleção brasileira de futebol.

A mesma que no passado era chamada de seleção canarinho pelo seu belo uniforme amarelo. Mais uma licença poética. Escalar a seleção, escolher o treinador é quase uma decisão estratégia e geo política da nação. Mexe com os brios da república Não pode sofrer interferência política seja lá de quem for.

No Brasil existem alguns milhões de “técnicos“, “treinadores“ ou “professores” suficientes para o trabalho de escalar a seleção. Não há a necessidade de mais um, ainda que seja o detentor do poder executivo.

Os boleiros sabem de cor a escalação do time, brigam quando os craques do seu clube não são escalados, apontam quem é o melhor técnico e palpitam até onde deve ser a concentração dos ídolos do esporte bretão. Ops, outra licença poética. Torcedores sabem de cor o nome de todos, a posição que jogam e alguma coisa sobre a vida pessoal de cada um.

A seleção é motivo de bate boca de todo o tipo nos bares e no transporte público. As rivalidades se regionalizam e paulistas, cariocas, gaúchos e pernambucanos se destacam na defesa dos seus craques.

Sabem o nome dos jogadores mas não dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que raramente é alvo de notícias na mídia, mesmo por que o clima político vivido no Brasil não abre espaço para manifestações e divergências.

Talvez no futuro isso mude.

Vestir a camisa da seleção é uma honra para poucos. Um gesto de nacionalismo, exaltação da pátria e por aí vai. Tudo devidamente turbinado pelos narradores esportivos, uns mais exaltados que outros. E este não é um fenômeno exclusivamente tupiniquim. Los hermanos são mais aguerridos.

O número de bons jogadores é imenso e se forem escolhidos só os craques, é suficiente para formar o time titular e o reserva. Diante disso por que o presidente se mete e além de desqualificar o treinador ainda quer indicar um jogador ? E logo o centroavante!

João Saldanha peita o chefe do executivo e diz que quem escala o time é ele. Presidente escala o ministério. O Brasil vive o auge do regime militar e o favorito de Garrastazu Médici é o Dadá Maravilha. Isto só podia dar um bate e rebate na área e todos os milhões de especialistas tinham suas próprias preferencias. Cai João, sobe Zagallo.

Pelé, Garrincha, Gérson, Tostão e cia formam o melhor time de todos os tempos. E conquistam o tricampeonato do México em 1970.

(*) – Professor e Jornalista, Palestras e Midia Training, é comentarista da Record News, Portal R7 e da Nova Brasil fm (www.herodoto.com.br).