Heródoto Barbeiro (*)
Há uma verdadeira festa a bordo. Mesmo antes do avião decolar de Brasília, os acepipes e tira-gostos passam de mão em mão.
Uma taça de champanha, francesa é claro, para espantar qualquer temor para uma viagem que inclui a travessia do oceano Atlântico. Mas o que é isso comparável com festas, homenagens, hospedagens e passeios oficiais ou não?
Poucos são os países convidados para as comemorações, e o Brasil é um deles. Além disso, é uma oportunidade de ouro para incentivar intercâmbio comercial e cultural entre os dois povos e isso só se faz presencialmente. Ninguém no governo teme que essa viagem possa ser explorada politicamente, dada a popularidade do presidente da República.
A presença da delegação brasileira é considerada um fortalecimento da política externa e o reconhecimento do Brasil como um país emergente. Não é o que pensa a oposição, nem os jornalistas. Multiplicam-se os artigos críticos nos jornais e as cenas da festa com as caras conhecidas da delegação brasileira povoam a televisão.
São 150 convidados entre ministros, senadores, deputados federais, sindicalistas, empresários, artistas e penetras de toda ordem. Se vai gastar para alugar um avião de grande porte, tanto faz ocupar dez assentos ou a lotação toda. Para economizar, e ter o melhor custo-benefício, a assessoria presidencial age de forma eficiente e lota a aeronave até o bico. Tudo em prol do prestígio do país.
A oposição entra na justiça e quer a lista de convidados do presidente da República para a viagem internacional e quanto custou. Afinal, o que se gastou sai dos cofres públicos, que são sustentados pelo pagamento dos impostos. Os mais radicais contra o governo alardeiam que falta dinheiro para saúde, educação e segurança, mas não falta para bancar mordomias da elite política do Brasil.
De outro lado, o presidente e seus aliados dizem que foram comemorar o aniversário de 200 anos da Revolução Francesa, e isso só poderia ser feito em Paris, onde começou a revolução em 1789. O presidente José Sarney, membro da Academia de Letras, não poderia deixar de comparecer, nem de apresentar a capital francesa para seus aliados políticos e amigos. Afinal, o que é o aluguel de um DC-10 da Varig diante de tanta importância para o Brasil?
A chegada de uma intimação no Palácio do Planalto faz a assessoria de Sarney entrar em pânico. O juiz do Rio de Janeiro quer o nome de todos os que viajaram e quanto custou a excursão à terra de Robespierre, Danton e Marat. Passado o susto, o caso é enterrado. Mas outros presidentes não aprenderam com o aviãozinho de Sarney.
(*) – Âncora do Jornal Nova Brasil, colunista do R7, é Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e mídia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina” (www.herodoto.com.br).