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Confiança e integridade dos CEOs em tempos caóticos

em Denise Debiasi
segunda-feira, 17 de junho de 2024

Vivemos tempos de crise climática. As previsões dos cientistas não são nada otimistas para o futuro do nosso planeta. Ou a humanidade revê urgentemente seus hábitos ou a coisa ficará feia para todos. No ano passado, também fomos surpreendidos com a revolução tecnológica causada pela Inteligência Artificial. A sensação que muitas pessoas têm é que mais cedo ou mais tarde as máquinas vão tomar seus lugares no mercado de trabalho (isso é, se já não tomaram).

Para apimentar ainda mais o cenário caótico, a estrutura produtiva global sofreu grave abalo com a pandemia da COVID-19 e com as guerras que insistem em acontecer. Como consequência, importantes indústrias padeceram (e algumas ainda não se recuperaram totalmente) com o desabastecimento. Além disso, o comportamento dos consumidores parece mudar mais rapidamente. Em pouco tempo, novas tendências atingem o mercado e as companhias precisam se reinventar totalmente.

Diante de um contexto tão mutante, a confiança dos executivos desaba. Viver na incerteza faz parte da rotina empresarial. Entretanto, estar em um mundo que beira a balbúrdia é extremamente angustiante e complicado. Neste panorama, como ficam as cabeças dos CEOs? Você já parou para pensar no drama que eles vivem em um universo social e empresarial tão bagunçado?! Quem parece ter essa preocupação é a PwC, uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo. Ela divulgou a pouco tempo a Pesquisa Global 2024 com CEOs. O estudo foi realizado com quase cinco mil executivos de vários segmentos da economia e dos quatro cantos do planeta.

 E o resultado da pesquisa não poderia ser mais preocupante. Aproximadamente 45% dos entrevistados afirmaram que suas empresas não serão viáveis em dez anos se grandes transformações não forem implementadas na estrutura corporativa. Ou seja, quase metade das organizações caminha em direção à irrelevância ou ao fechamento. Como a Pesquisa Global com CEOs chegou neste ano à 27ª edição, podemos fazer uma avaliação do nível de pessimismo da alta direção. Esse é um dos indicadores mais altos da série histórica. Para se ter uma ideia, em 2023, 39% dos presidentes das empresas afirmavam temer o futuro em médio e longo prazos dos seus negócios.

No material divulgado pela PwC, outros dados chamam a atenção. Os CEOs também se preocupam com o curto prazo. Eles esperam mais pressão por causa das mudanças tecnológicas (56% dos entrevistados afirmaram isso), das alterações nos hábitos dos consumidores (49%) e mexidas na regulamentação governamental (47%). Esses são os dados internacionais. Quando olhamos para a parte brasileira do estudo, encontramos temores parecidos: 72% se angustiam com as transformações tecnológicas, 64% reclamam das mudanças constantes da preferência dos consumidores e 52% temem as ações dos concorrentes.

Trouxe esse recorte para fazer uma pergunta que pode tirar o sono de muita gente. Se os CEOs das principais companhias não confiam em seus negócios, quem irá acreditar nessas empresas?! Se essa não for uma enorme contradição de integridade e de princípios empresariais, confesso que não sei mais em quem e no que crer no mundo dos negócios.

Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.