Heloísa Capelas (*)
O que eu faço com o meu aprendizado infantil, que foi fundamental na formação da minha personalidade adulta?
Falar sobre autoritarismo nos dias de hoje parece fora de moda, afinal, a maioria das pessoas deixou no passado a lembrança das dores causadas pelo regime ditatorial que marcou a história do País. Mas não quero falar sobre regimes ou governantes. O meu assunto é comigo mesma – e com você, se quiser refletir sobre os seus próprios sentimentos e comportamentos em relação ao assunto.
O dicionário relaciona a palavra ‘autoritário’ aos adjetivos altivo, impositivo, dominador e também arrogante, impetuoso, impulsivo, violento. Muitas dessas características eu encontro em mim. Em maior grau em algumas situações, quase imperceptíveis em outras. Como (talvez) a maioria das pessoas, eu tive pais autoritários. Criados eles próprios sob um sistema autoritário, acreditavam que criança não tinha querer. Então, aprendi que, quando crescesse, eu deveria ser como eles.
Porém, os tempos mudaram. Se no campo social e político muitos homens e mulheres alteraram o cenário das nações e fizeram com que a democracia se tornasse possível, no campo pessoal e emocional o que eu faço com o meu aprendizado infantil, que foi fundamental na formação da minha personalidade adulta? Será que, para conseguir aquilo que almejo, devo continuar a ser autoritária, impetuosa, impositiva, violenta? Ou posso escolher outras atitudes que talvez me tragam mais rapidamente o que quero na relação com as pessoas?
Enquanto eu quiser controlar a ação dos outros para que tudo saia do meu jeito, o autoritarismo prevalecerá. Mas, se eu puder pensar que somos todos iguais e desejamos as mesmas coisas para as nossas vidas, deduzo que o que queremos, como seres humanos, é que sejamos aceitos e amados. Como grupo, nação ou indivíduos queremos ser reconhecidos pelo nosso valor; e, como seres que habitam o mesmo planeta, queremos a paz.
Não serei capaz de me amar e de me aceitar se isso for uma imposição. Como cidadã do mundo não posso fazer a paz se houver guerra dentro de mim. A saída talvez esteja na consciência da sua própria história, no perdão dos seus próprios erros e na construção de um novo caminho, que começa por reconhecer onde estamos e quem somos, com honestidade e abertura.
Do meu ponto de vista, o começo da mudança pode ser a reflexão e a aceitação de que todos nós temos o autoritarismo como caminho aprendido, mas que pode ser transformado se nós quisermos. Não quero dizer que esta é a única saída, nem que é a mais fácil. Mas é nela que, por enquanto, eu acredito. Então, você quer ter razão ou quer ser feliz? Enquanto sua vontade for ter razão, o autoritarismo será a maneira mais rápida e fácil de garantir isso.
No entanto, se você quiser ser feliz, há um longo caminho de reflexão e mudança à sua frente e milhões de possibilidades.
(*) – É autora do livro recém-lançado, o Mapa da Felicidade (Editora Gente). Especialista em Autoconhecimento e Inteligência Comportamental, atua no desenvolvimento do potencial humano há 30 anos.