Latif Abrão Jr (*)
Vivemos as crises da saúde e da economia mais pesadas do século 20 e desse primeiro quinto do século 21.
Em 1918, a pandemia da Gripe Espanhola. E em 1929, a Grande Depressão econômica. Desta forma, é natural que todos nos sintamos apreensivos e inseguros quanto ao futuro. No entanto, temos uma certeza: a volta da normalidade. Isso é um bem. Nós só não temos certeza de como será a volta desse novo normal. Certamente, não será o normal que viemos vivendo até fevereiro deste ano.
As medidas governamentais revelam a falta de integração entre os vários governos, em âmbito federal, estadual e municipal. É notória a falta de um planejamento conjunto de como atacar essa crise. Ações estão à mercê dos governadores, prefeitos e do próprio ministério da saúde, onde sobra desentendimento.
O fato é que prevalecem as orientações da Organização Mundial da Saúde – OMS, fundamentadas no afastamento social. O Governo do Estado de São Paulo fez e faz a lição de casa. Está mais próximo da população e conhece as limitações dos recursos disponíveis na área da saúde pública.
Sabemos muito bem que as vendas são o motor da economia para todos os setores, segmentos e nichos de mercado. Por isso, conclamamos a união das várias entidades representativas da sociedade civil organizada, com o objetivo de construir uma mesma narrativa. Não basta criticar o governo A, B ou C. Eles também estão tateando. A rigor, estamos todos aprendendo.
Porém, as lideranças das diferentes forças produtivas atuantes no Brasil, constatam que as atitudes governamentais são tímidas ao extremo, diante de uma crise sem precedentes. Pior: além de tímidas, elas não chegam na ponta, onde devem chegar.
Precisamos, sim, apoiar o governo em todas as esferas do poder – legislativo, executivo e judiciário – para a construção dessa narrativa única. Cabe chamar a atenção deles para que não chutem a canela um do outro. E sempre que isso acontecer, é preciso apontar e protestar. Temos que evitar situações inexplicáveis, a exemplo do plano recém-aprovado na Câmara para a compensação do ICMS e do ISS dos Estados e Municípios. Isso não tem pé nem cabeça.
É um plano político que onera muito mais o Brasil do que os prejuízos já causados pela pandemia da Covid-19. Precisamos estar cientes de que, na crise, todos temos que nos blindar contra a farra da ajuda, promovida pelos oportunistas e aproveitadores. Queremos que todos os governos se entendam e deixem de lado a política eleitoreira.
Pautem suas decisões com base na ciência, em busca por remédios e vacina. Priorizem a devida proteção aos profissionais da saúde, segurança e que a sociedade amplie as ações de solidariedade. Dimensionar e recompor a perda dos empregos e das rendas é foco prioritário e inegociável.
Não tem o menor cabimento executivo e legislativo privilegiarem eventuais perdas dos governadores e prefeitos. Isso tem viés eleitoreiro claro e urge reconhecer e afastar as ações oportunistas dos agentes públicos e do setor privado.
Vamos preservar os dedos, porque os anéis já se foram. E assim, voltarmos às nossas atividades, o mais breve possível. Não voltaremos ao normal de ontem, atropelado pelos fatos. Mas, certamente, àquele que iremos construir com a nossa vontade e a nossa garra.
(*) – É presidente do Conselho Consultivo da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), sócio-diretor do Hotel Terras Altas Resort & Convention Center, presidente do Conessp e vice-presidente da ABIH- SP.