Felipe Leite (*)
Neste novo e desafiador cenário está impossível apontar o que vai acontecer.
A nova lei, que proíbe a doação de empresas para campanha eleitoral permitindo apenas as contribuições de pessoas físicas, gerou uma pergunta que não sai da cabeça dos candidatos, marketeiros, advogados e contadores nestas eleições: Será que os eleitores vão fazer doações em dinheiro para seus candidatos? Apesar do Brasil ainda não possuir uma tradição em doações de pessoas fisicas para políticos, em outros países essa é uma realidade que já está dando certo.
Segundo levantamento da Organização Intergovernamental que atua hoje como observadora da ONU (IDEA), o valor por cada voto brasileiro é de cerca de US$ 19,90. No México é de US$ 4,20 e na Costa Rica US$ 9,60. Nos dois países citados, a doação feita por empresas também é proibida. O cientista político Carlos Melo explica que o fundo partidário não cobre nem 15% dos gastos totais de uma campanha.
Ainda de acordo com os dados do IDEA, 39 proíbem as doações de empresas para candidatos eleitorais, entre eles: Estados Unidos, Canadá, Peru, Paraguai, México, Portugal, Polônia, França e Egito. Os Estados Unidos, aliás, é o principal exemplo de campanhas bem-sucedidas financiadas por eleitores. O presidente Barack Obama, em 2008, arrecadou como candidato cerca de meio bilhão de dólares. Nas eleições presidenciáveis deste ano nos EUA, a candidata democrata à Casa Branca Hillary Clinton anunciou que arrecadou US$ 45 milhões nos três primeiros meses de sua campanha, um montante considerado recorde.
No Brasil ainda existe espaço para o inesperado. O consultor de marketing político, professor da USP e assessor do presidente interino Michel Temer, Gaudêncio Torquato, afirma que as pessoas ainda não têm o costume de realizar doações para candidatos via internet. Além disso, ele explica que as novas regras vão diminuir o tempo de campanha, fazendo com que o eleitor não tenha a chance de conhecer novos candidatos. Isso faria com que as pessoas acabassem votando e fazendo suas doações em pessoas que já apresentem uma trajetória política ou que são conhecidos do grande público.
Outra forte tendência são os candidatos, que mantêm relacionamento direto com seu público, que representam uma causa e conseguem transformar suas ideias e projetos em objetivos comuns com seus eleitores. Neste caso, o ato de fazer uma doação acaba se tornando uma ação política, uma maneira de participar ainda mais efetivamente da campanha eleitoral do candidato. A boa noticia é que os brasileiros estão doando. A pesquisa realizada pelo Instituto pelo Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) mostra que em 2015, 77% dos pesquisados fizeram algum tipo de doação. Desses, 52% doaram dinheiro. As doações individuais dos brasileiros totalizaram cerca de R$ 13,7 bilhões, valor que corresponde a 0,23% do PIB brasileiro.
Com o crescimento de plataformas de crowdfunding como Catarse e Kickante fazer uma doação on-line já é uma realidade. Milhares de projetos no Brasil e no mundo se viabilizaram desta forma. Vale lembrar a “vaquinha” utilizada pela presidenta Dilma conseguiu arrecadar mais de R$ 750 mil em poucos dias. Apesar do crowdfunding ser um sistema diferente de arrecadação, daquele que os candidatos podem utilizar em suas campanhas, demonstra a potência da obtenção de recursos quando relacionados a uma causa específica.
Para receberem recursos eleitorais legais, os candidatos precisam seguir as regras do TSE e utilizarem uma ferramenta própria de doação eleitoral legal, que esteja disponivel em seu site ou redes sociais, que transfira as receitas obtidas para a conta corrente de campanha, sem intermediários e que gere recibo eleitoral para o doador. Uma das formas mais seguras e eficazes são as doações por cartão de crédito. Normalmente a emissão de boletos bancários, além de custarem mais caro por transação, frustam os candidatos, pois muitos eleitores imprimem os boletos, mas deixam de pagar.
E importante lembrar: cada doação, mesmo que seja de 1 real, significa um voto a mais para o candidato. Afinal ninguém vai deixar de votar no candidato depois de realizar uma doação. A doação é um comprometimento, um contrato entre o eleitor e o candidato. Neste sentido, mesmo com poucos recursos arrecadados, uma campanha com muitos doadores pode levar o candidato a vitória nestas eleições.
Talvez melhor do que se estressar em batalhas infindáveis nas redes sociais, a forma mais simples e útil para garantir a vitória de seu escolhido nestas eleições seja fazer uma simples doação eleitoral e depois cobrar de seu candidato. Neste novo e desafiador cenário está impossível apontar o que vai acontecer. Mas, definitivamente, as Eleições 2016 ficarão marcadas para sempre como um momento especial em nossa recente história política.
(*) – Especialista em doação eleitoral pela internet e diretor da Guest Sistemas, empresa que criou o Doação Eleitoral Legal (www.doacaoeleitoralegal.com.br).