Jonas Moriki (*)
O futebol é mais do que um esporte no Brasil, é uma paixão nacional que une milhões de torcedores em torno de seus clubes favoritos. No entanto, por trás da magia dos gramados, há uma realidade complexa que envolve a gestão e a governança dos clubes. Durante anos, muitos clubes de futebol no Brasil enfrentaram desafios financeiros e administrativos, resultando em um alto nível de desconfiança, brigas políticas e até corrupção. No entanto, uma nova era está surgindo no cenário do futebol brasileiro, impulsionada pela adoção do modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
A SAF é uma estrutura jurídica que permite que clubes de futebol se transformem em empresas ou adotem uma governança semelhante à das empresas de capital aberto. Essa transformação busca separar a administração esportiva e financeira da instituição dos interesses de torcedores e sócios tradicionais, possibilitando uma gestão mais profissional e transparente. Como exemplo, temos os casos de sucesso dos últimos dois finalistas da Libertadores: Atlético Mineiro e Botafogo. Ao adotarem o modelo SAF, eles demonstraram como ele pode melhorar a governança e a profissionalização dos clubes de futebol.
Indo mais além, a estrutura empresarial de uma SAF permite que os clubes atraiam investimentos de forma mais eficiente. Com a possibilidade de emitir ações ou buscar aportes de capital por meio de investidores privados ou até mesmo do mercado de capitais, as Sociedades Anônimas conseguem captar recursos para investimentos em infraestrutura, contratações e melhorias operacionais. Isso não apenas fortalece o clube, mas também contribui para o desenvolvimento do futebol brasileiro como um todo.
Outro dos principais benefícios do modelo SAF é a separação das esferas financeira e administrativa das emoções e decisões baseadas em agradar torcidas ou políticos do clube. O modelo pode reduzir interferências políticas e interesses pessoais, permitindo que a gestão se concentre em resultados sustentáveis. Muitos clubes que adotaram as SA’s recentemente tinham ambientes internos extremamente conturbados e, hoje, estão relativamente pacificados.
No entanto, é importante reconhecer que há desafios na transição para o modelo SAF. Muitas equipes e, em especial, as grandes, têm uma tradição histórica e uma base de sócios que podem resistir às mudanças. Além disso, a adoção do modelo SAF exige investimentos iniciais em consultorias, adequação de processos e conformidade com normas regulatórias. Clubes podem enfrentar desafios financeiros e operacionais durante esse período de transição. No entanto, os benefícios a longo prazo, em termos de transparência, gestão e integridade, superam os percalços iniciais.
Outro desafio é a pressão por resultados financeiros. Ao se tornarem mais orientados pelo mercado, os clubes passam a ser vistos como um ativo pelos investidores, que como em qualquer investimento, buscam lucros. Contudo, em alguns casos, a exigência de superávite imediato pode conflitar com estratégias de longo prazo voltadas para o desenvolvimento sustentável do clube. Porém, a profissionalização da gestão e a adoção de práticas de governança podem ajudar a equilibrar essas pressões e garantir que a associação anônima continue a crescer de forma sustentável.
Em resumo, o modelo SAF representa uma oportunidade para os clubes de futebol no Brasil se transformarem em organizações mais profissionais e transparentes. O mercado de futebol brasileiro possui um elevado grau de endividamento. Alguns clubes devem quantias na casa dos bilhões, o que dificelmente será sanado se as mesmas formas de gerir das últimas décadas persistirem. Com a adoção do modelo SAF, esse cenário pode ser revertido e trazer mais transparência finaceira e integridade nas gestões esportivas brasileiras, inclusive de outros esportes.
(*) sócio-diretor da Perinity.