José Pedro Mello (*)
Os desafios do setor podem se tornar oportunidades de negócios disruptivos para os empreendedores.
Quem acompanha minimamente o esporte no Brasil, com certeza se sensibilizou com o desabafo que a jogadora Nini Baciega, capitã do Clube Atlético Taboão da Serra (CATS), fez após o time sofrer uma derrota de 29 a 0 contra o São Paulo durante o Campeonato Paulista de Futebol Feminino.
No intervalo da partida, que ocorreu no final do mês de outubro, a atleta chamou a atenção para a falta de apoio, estrutura, salários e materiais esportivos para que a equipe disputasse uma competição em pé de igualdade. Assim como aconteceu em outras esferas da nossa economia, a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus resultou no cancelamento e na suspensão de patrocínios pelo Taboão da Serra, na saída de jogadoras e na falta de dinheiro para realizar testes de Covid-19 para que os treinos fossem liberados.
Essa realidade não é exclusiva do clube e engloba diversas entidades brasileiras que se viram em meio às demissões, ao adiamento de eventos e jogos sem torcida. O cenário não é nada animador. Com o relato da esportista, muita gente se solidarizou com a situação, mandando mensagens de incentivo e realizando vaquinhas virtuais a fim de arrecadar recursos para ajudar as meninas.
O caso, que tomou conta dos noticiários na época, veio para reforçar que o ecossistema esportivo está cheio de gargalos e que os desafios do setor podem se tornar oportunidades de negócios disruptivos para os empreendedores que não tem medo de arriscar. Ao mesmo tempo que o segmento de sports techs vem crescendo em ritmo constante no Brasil, vejo que o setor ainda está em estágio embrionário aos olhos dos entusiastas, devido a uma série de questões culturais e estruturais do nosso país.
Talvez, se as inovações voltadas para o mundo esportivo fossem amplamente divulgadas e abraçadas pelas instituições, haveria outros caminhos para os atletas tentarem conquistar algum tipo de auxílio. Existem diversas iniciativas que, por meio da tecnologia, se propõem a estimular o relacionamento entre os profissionais e os clubes, faculdades, confederações e players do segmento.
Quem procura inovar e utilizar tecnologias para auxiliar na carreira, seja na busca por um patrocínio ou até mesmo para melhorar a performance, está a um passo à frente de sair da zona de conforto e mergulhar de cabeça em resultados firmes e duradouros. E não há negócios voltados somente para o futebol: a cartela é bastante vasta.
Grandes mercados não são construídos do dia para a noite e o acontecimento do Taboão da Serra nos indica que devemos continuar. Se tudo der certo, a história da Nini tem tudo para despertar o interesse dos empresários para o esporte no Brasil e fazer com que companhias abram seus horizontes. Se atletas de elite do país encontram dificuldades para firmar contratos, não é difícil imaginar os empecilhos enfrentados por quem está começando.
Temos atividades esportivas específicas que vivem de picos de visibilidade e que por não serem tão populares tornam trabalhoso e exaustivo chamar a atenção por aí. O caminho é longo, mas desistir não pode ser uma opção. Desejo que a mentalidade das empresas ganhe um olhar diferenciado e que fique claro que tem muita gente nova desenvolvendo a performance individual para ter mais visibilidade.
O filme que assistimos hoje não é dos melhores, mas pode ganhar um novo capítulo daqui para frente. Veremos!
(*) – É CEO da Atletas Now, Sports Tech que por meio de uma plataforma digital conecta atletas e profissionais de esporte a oportunidades e players do setor.