Zilda Mendes (*)
Por conta da pandemia, era esperado que os resultados do comércio referentes a 2020, não fossem tão bons, não só no Brasil, mas na maior parte dos países.
Embora a balança comercial brasileira venha apresentando resultados positivos neste ano, a participação do Brasil no comércio internacional há muito tempo é quase insignificante, girando em torno de 1% em relação ao total das exportações e importações feitas pelo mundo. A pandemia só veio agravar o desempenho brasileiro, mas isto não pode ser considerado o único motivo pelo qual o país vinha patinando nas últimas décadas neste segmento.
Quem acompanha o comércio exterior brasileiro percebe que há um esforço bastante importante para o aumento das exportações e importações brasileiras, sobretudo de algumas câmaras de comércio que trabalham no sentido de divulgar e apresentar oportunidades de negócios para as empresas nacionais. De sua parte, órgãos governamentais têm buscado desburocratizar e agilizar os procedimentos para as exportações e importações.
Diversos eventos, teleconferências, debates e cursos, muitos gratuitos, são oferecidos não só por instituições governamentais, mas também pela iniciativa privada, para que profissionais se atualizem e se qualifiquem para atuar neste segmento. Neste ano, foi lançado o primeiro Anuário de Comércio Exterior Brasileiro pelo Ministério da Economia, que apresenta uma visão do ano de 2020 do comércio exterior brasileiro e as ações adotadas para o enfrentamento à pandemia da covid-19.
Neste relatório, são apresentadas as estatísticas e as medidas adotadas para as operações de comércio exterior, a facilitação de comércio, a modernização do Mercosul, financiamento ao comércio exterior, os acordos comerciais, a identificação de barreiras comerciais e internacionalização de empresas brasileiras, defesa comercial e interesse público, governança da política comercial e investimentos. Esta publicação é muito bem-vinda.
Há tempos era necessário que publicações oficiais como esta fossem disponibilizadas não somente para os profissionais que atuam neste segmento, mas também para que a sociedade de forma geral conhecesse e acompanhasse as ações do governo e pudesse avaliar positiva ou negativamente os resultados apresentados. Já se podia notar que medidas estavam sendo adotadas para incrementar, desburocratizar e, principalmente, facilitar os negócios internacionais.
Consultas públicas passaram a ser mais frequentes e fundamentais para a adoção de políticas adequadas e atuais para a prática do comércio exterior, o que certamente pode melhorar a performance e a competitividade do Brasil no mercado externo. Os dados referentes ao comércio brasileiro de mercadorias em 2020, apresentados pela OMC, apontam que houve decréscimo em relação ao ano anterior, tanto nas exportações como nas importações.
O valor total das exportações brasileiras foi por volta de US$ 209 bilhões e o das importações, US$ 166 bilhões. Em 2019, estes valores foram de US$ 225 bilhões e US$ 184 bilhões, respectivamente. No ranking mundial, em 2020, o Brasil ocupou a 26ª posição como exportador e a 29ª posição como importador, sendo que em 2019 o país ocupava as 27ª e 28ª posições, respectivamente. Nestes últimos dois anos, considerando os países do BRICS, o Brasil ficou à frente somente da África do Sul.
Mas, independentemente da pandemia, que impactou negativamente no comércio exterior no mundo todo, com algumas pouquíssimas exceções, a pergunta que persiste é: por que o Brasil, mesmo apresentando superávits frequentes na balança comercial, não consegue aumentar a sua participação no comércio internacional?
(*) – É professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, atua nas áreas de comércio exterior e câmbio.