Beatriz Leme (*)
A medicina nuclear está evoluindo muito rápido.
Inicialmente utilizada apenas para a detecção e diagnóstico de lesões, ao longo dos anos ela vem ganhando cada vez mais notoriedade em terapias diversas que fazem uso de compostos radiomarcados, especialmente no tratamento com radioiodo do câncer da tireoide, linfoma e tumores sólidos com anticorpos monoclonais.
A Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), legítima representante dos médicos especialistas e profissionais de áreas correlatas, além de promover e facilitar o acesso à medicina nuclear no Brasil, tem se empenhado também em ampliar a percepção da atuação e remuneração dos médicos nucleares nesse sentido, buscando implementar uma verdadeira mudança de paradigma no setor.
Pois, em uma breve análise deste mercado, que se expande em oportunidades terapêuticas, o médico nuclear exerce importante papel clínico junto ao paciente e, consequentemente, agrega ainda mais valor ao procedimento, onde as margens de cobertura, inclusive, merecem nova avaliação. Mais do que isso: ao assumir o contato direto com o paciente, que pode se estender a qualquer hora do dia ou da semana, o médico nuclear também dispende de mais horas de atendimento, e, assim como os procedimentos, sua remuneração deve ser atribuída com critérios claros e conceito de hierarquização (back office/front office).
Diante disso, diversos embates estão sendo realizados junto à Associação Médica Brasileira (AMB), Agência Nacional de Saúde (ANS) e Sistema Único de Saúde (SUS), assim como junto aos médicos nucleares e seus parceiros de trabalho. Infelizmente, contudo, o freio desta introdução está, ainda, na perceptível falta entendimento dos próprios profissionais e dos agentes pagadores no que se refere aos custos e oportunidades em ganhos e margens.
Entendemos nós, da SBMN, que trabalhamos para conhecer nossos verdadeiros gargalos, que os procedimentos terapêuticos muito têm a somar para os serviços de medicina nuclear. Seja na utilização conjugada com nossos procedimentos de imagem, dos quais os pacientes terapêuticos farão uso, seja na contribuição de amortizar custos de investimento em instalações e equipamentos, ou ainda no ganho em produtividade, diminuindo a ociosidade de mão de obra e espaço físico. Sem contar na aproximação com outras especialidades clínicas tornando a medicina nuclear mais conhecida e de maior acesso à população em sua área diagnóstica, com grandes possibilidades em ganho de escala e ampliação dos serviços.
Como exemplo, podemos citar o caso do cloreto de rádio 223, para o tratamento de pacientes com câncer de próstata resistente a castração com metástases ósseas sintomáticas e sem metástases viscerais conhecidas, onde o oncologista e o urologista se tornaram parceiros terapêuticos no manejo do paciente. São ganhos em relacionamento entre especialidades de suma importância para a medicina nuclear.
Assim, não há dúvida de que para o avanço da medicina nuclear no Brasil devemos promover uma verdadeira mudança de paradigma, tanto na atuação dos profissionais da área quanto aos ganhos de margem nos serviços e remuneração, hoje focados em valores atribuídos a uma única ação.
(*) – É economista, consultora na área econômica e de mercado na Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e executiva-chefe de Serviços de Diagnósticos por Imagem.