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Franco Montoro, 100 anos

em Artigos
quarta-feira, 13 de julho de 2016

João Batista de Andrade (*)

Muito se escreveu sobre André Franco Montoro desde que ele despontou no cenário político nacional.

Sua coragem, firmeza e generosidade. Do homem simples, porém enérgico. Do seu desprendimento e do espírito de homem público. Visionário, sonhador, esteve na vanguarda das reivindicações dos trabalhadores, da comunidade, do respeito aos direitos humanos, da democracia.

Dele também podemos dizer que foi o governador da Ecologia, pioneiro na criação de reservas ambientais. Precursor na ampliação do conceito de patrimônio, tendo como base a participação da sociedade civil, como também fez na área da Cultura. A política de descentralização, com os olhos voltados para os municípios é marca registrada de seu legado. Pois, dizia, “as pessoas não moram no país ou no Estado, mas no município”.

O Memorial da América Latina celebra o centenário de Franco Montoro, neste 14 de julho, em homenagem ao homem que abriu caminho para a redemocratização do Brasil. E que reinaugurou o caminho de uma política governamental democrática, voltada para a vida dos cidadãos. Ouso dizer que, empossado governador em 1983, Montoro antecipou em dois anos a volta da democracia para os paulistas depois de 19 anos de ditadura.

Foi Montoro quem fez germinar a semente que brotou o Memorial da América Latina. Defensor ferrenho da integração latino-americana, nos primórdios dos anos 1950 Montoro já pregava aquele que foi um dos seus motes históricos: “Para a América Latina a opção é clara: integração ou o atraso”.

Tive a honra de participar de sua campanha em 1982, como um dos coordenadores da Comissão de Cultura na famosa casa da Rua Madre Teodora, onde se gestava, não somente um plano de governo, mas o embrião de um governo democrático. Ali, na aglutinação de representantes da sociedade civil e das melhores cabeças da política paulista, podíamos perceber que daquela efervescência nascia um novo São Paulo, um novo Brasil.

É muito rica e onipresente a biografia de Franco Montoro para pretender se esgotá-la numa homenagem/exposição que reúne os principais flagrantes de sua trajetória pública. Mas, se tivéssemos que escolher um recorte para deixar gravado o quanto representa Montoro na História do Brasil, esse seria a imagem dos comícios pelas Diretas-Já na Praça da Sé e no Vale do Anhangabaú.

Sem Montoro, o Brasil talvez ainda estivesse procurando a luz que clareou os caminhos para a democracia. Este, sim, democracia, o verbete que esteve impregnado na alma e no caráter desse grande brasileiro até o último dos seus dias. Viva Montoro!

(*) – É escritor, cineasta e presidente do Memorial da América Latina.