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Bitcoins em garantia: mais um degrau para a Revolução Financeira

em Artigos
segunda-feira, 06 de junho de 2022

Bianca Ticiana (*)

Oferta de empréstimos com Bitcoin em garantia permite o acesso mais rápido ao dinheiro.

O mercado de crédito no Brasil sempre foi marcado por barreiras que dificultavam e até impediam o acesso de empresas e famílias ao financiamento de atividades de produção, investimento e consumo. Este cenário é fruto de inúmeras razões, mas principalmente da assimetria de informações e questões regulatórias que inibem o avanço do crédito para certos grupos, como os de pequenos empreendedores.

Com a chegada das fintechs, que redesenharam a área de serviços financeiros com apoio da tecnologia, o papel passou a ser eliminado do sistema financeiro de muitos países, afinal, não fazia mais sentido usar bancos e corretoras de valores tradicionais como usávamos há 30 anos.

E assim, o crédito foi ganhando contornos mais democráticos, com análises de riscos mais adequadas à realidade dos empresários brasileiros de menor porte e também das pessoas físicas. Agora, mais um passo foi dado em direção à Revolução Financeira a que assistimos há alguns anos: a oferta de empréstimos com Bitcoin em garantia.

Esta é uma modalidade cada vez mais popular em plataformas centralizadas, sobretudo em países da Europa e nos Estados Unidos. Atualmente, mais de 2% dos Bitcoins existentes estão bloqueados nestes protocolos, segundo cálculos da empresa de análises Arcane Research e da exchange de criptomoedas Bitstamp.

Para se ter uma ideia do tamanho deste mercado, essa cifra corresponde a cerca de 420.000 Bitcoins (BTC) e está garantindo boa parte da liquidez dos mercados de finanças descentralizadas (DeFi). O mercado de empréstimos com Bitcoin como garantia é relativamente jovem: tem quatro ou cinco anos de existência.

Mas segundo o relatório “Apostando em Bitcoin: o status do Bitcoin como garantia”, divulgado pela Arcane Research, o aumento é evidente entre o terceiro trimestre de 2019 e o último de 2020: chegou a 1.170%. Mais precisamente, a quantidade de Bitcoins colocados como garantia passou de 213.000 para 420.000 BTC.

Entre os motivos para o crescimento, está o acesso mais rápido ao dinheiro, bem mais simples do que se submeter às exigências de um banco, com montanhas de papelada. Além disso, esses empréstimos também estão disponíveis para qualquer pessoa que atenda aos requisitos de garantia. Ou seja, dispensa verificações ou avaliações de crédito tradicionais, assim como longos relacionamentos com instituições financeiras quadradas.

Além disso, os juros acabam sendo bem menores quando comparados aos empréstimos sem garantia, e muito mais rápidos quando comparados aos empréstimos com garantia de imóveis e veículos, uma vez que não precisam de vistorias e nem de registros em cartórios. Além disso, existe a possibilidade de valorização do ativo em longo prazo e o pagamento mensal apenas dos juros, já que o valor principal é pago apenas na última parcela. Outro ponto interessante é que o Bitcoin caiu 50% desde novembro do ano passado, quando atingiu a máxima histórica, cotado a 64.400 dólares.

No início de maio, a cripto bateu 32.800 dólares, voltando ao patamar de julho do ano passado. A queda acompanha a maioria dos mercados internacionais, que temem fatores como a inflação, guerra, China e juros altos. Ainda assim, o Bitcoin continua sendo bastante rentável em longo prazo: nos últimos cinco anos, a criptomoeda valorizou mais de 1.400%, enquanto o Ibovespa valorizou apenas 51% no mesmo período. Trata-se de uma boa oportunidade para quem queria comprar mas ainda relutava por conta da alta. Com BTC na mão, o acesso a crédito fica facilitado.

Podemos dizer que subimos mais um degrau em direção à Revolução Financeira contemporânea, que chega para desmaterializar o que consumimos – inclusive o dinheiro. Junto com ela, alcançamos mais oportunidades para empresas de todos os portes e também para pessoas físicas. Que venha agora a popularização destas inovações.

(*) – É fundadora da Culte (https://culte.com.br/).