Claudio Gandelman (*)
Todo mundo tem que ser empreendedor, o que não significa ser o dono do negócio.
Quando eu tinha 19 anos, fui fazer uma entrevista num banco de investimento, época longínqua em que nem TV a cabo existia ainda. Num determinado momento o entrevistador me perguntou se eu era empreendedor.
Lógico que saindo da adolescência, em um período onde informação era um bem escasso e o termo empreendedor era quase desconhecido ou confundido com “empresário”, minha humilde e quase estúpida resposta foi: “ainda não, mas no futuro acho que vou querer ser”.
E olha que aos 16 anos já tinha aberto uma marca de camisetas e de calças de moletom “silkada” com um amigo, que até tiveram algumas boas vendas entre os coleguinhas da escola. Hoje, todo jovem diz que quer ser empreendedor. Na assepsia da palavra, empreendedor seria o sujeito que abre um negócio. Pelo menos é assim que 99% das pessoas pensam atualmente.
Mas quem estava certo mesmo era o sujeito que me entrevistou algumas décadas atrás. Todo mundo tem que ser empreendedor, o que não significa ser o dono do negócio (ter ações), nem ser o presidente da empresa, muito menos ser o mandachuva que sabe tudo.
Ser empreendedor é ter pensamento de dono, e não precisa ser dono da empresa, pode ser dono só do seu pedaço.
A pessoa que serve o café pode ser empreendedora, ela pode pensar a melhor forma de servir o café para uma visita, estar sempre com um sorriso, saber a hora de repor, ou mesmo a hora de não aparecer.
Costumo dizer que uma empresa não começa no presidente, mas na recepcionista (que está rareando cada vez mais). É ela o primeiro contato com quem visita a sua empresa, ela que vai receber e colocar a pessoa na sala de reunião.
Tem duas formas de fazer isso: uma protocolar e outra fazendo a pessoa se sentir realmente bem recebida. Quem tem espírito empreendedor, sempre vai querer fazer da melhor maneira. Da mesma forma, a turma de atendimento, produto, marketing, tecnologia, finanças e todas as outras áreas de uma companhia.
Dois bons exemplos são as áreas de tecnologia e finanças, que muitas vezes não são o core das empresas, mas que deixam um legado que faz muita diferença no longo prazo. Em ambas é possível fazer algo que funcione para amanhã, mas que pode quebrar em dois ou três anos. E isso gera uma série de problemas, retrabalho, tira o foco e atrapalha muito o andamento de qualquer empresa.
Se o time que está tocando essas áreas tiver a pegada empreendedora, pensará sempre no futuro da empresa e em como pode ajudar os seus companheiros. Por outro lado, tem as pessoas que não estão nem aí e só querem se livrar do trabalho e passar para frente. Empreendedorismo não é necessariamente nato, mas pode ser ensinado. Não tenho a menor dúvida disso.
Ser empreendedor não é necessariamente ser empresário, mas definitivamente ser e se sentir dono do que está fazendo. Construa uma empresa de donos, não de funcionários. Isso vale para o presidente da empresa e para a pessoa que serve café. Aliás, eu mesmo sirvo muitos cafés para as visitas, e sempre com o maior prazer.
(*) – É CEO da Auti Books (www.autibooks.com).