Clauber Cobi Cruz (*)
Na virada de mais um ano, e encerramento de uma década, é inevitável questionar o futuro da nossa atividade.
Para fazer previsões, o melhor ponto de partida é avaliar os resultados que já alcançamos até aqui. E para o setor de orgânicos, eles não foram poucos. 2019 ficou marcado como o ano dos Orgânicos em Movimento. Um ano em que o produto orgânico esteve em destaque, ganhando vida própria e aprendendo a se movimentar quase que por conta própria. Para vários setores da nossa economia, o cenário não foi positivo – para muitos chegou a inspirar preocupação.
Apesar disso, os orgânicos comemoraram diversos indicadores expressivos. A principal feira do setor de orgânicos, a BioBrazil, cresceu 33% em número de expositores. Ao mesmo tempo, tivemos muitos brasileiros visitando as principais feiras internacionais do setor – mais do que em outros anos – na busca por ideias e conceitos com potencial para ser trabalhados por aqui. Enquanto isso, na mídia, nunca se falou tanto sobre os orgânicos.
No Brasil de 2019, rompemos a barreira das vinte mil unidades produtivas e o varejo entendeu a importância do orgânico no portfólio dos saudáveis. Tanto é que na Organis nunca recebemos tanta demanda por informações – de empresas buscando se associar, entidades nos convidando para proferir palestras e veículos solicitando entrevistas e dados de mercado.
Em nossa avaliação, 2019 terminará para os orgânicos com um crescimento entre 10 e 15% – numa estimativa conservadora. Esse percentual poderia ser bem maior, talvez o dobro, se as condições econômicas tivessem sido favoráveis e se o consumidor já houvesse consolidado seu entendimento sobre o que é um produto orgânico. De qualquer modo, o setor deverá alcançar a cifra de 4,5 bilhões de reais até o final do ano.
Agora que já examinamos a forte correnteza que corre pelo rio caudaloso dos orgânicos, vamos arriscar alguns palpites para 2020. Podemos enxergar algumas tendências positivas. Nossa avaliação é a de que o mercado brasileiro de orgânicos deverá crescer no mínimo 10%. Um número conservador, é verdade, mas muito factível.
Podemos inferir que no próximo ano aumentará a demanda por produtos orgânicos plant based. Outra aposta é a de que os responsáveis pela merenda escolar também se voltarão para os produtos orgânicos, o que estimulará o crescimento do setor. A oferta de frutas orgânicas e de produtos orgânicos oriundos da cadeia animal, como frango, leite e derivados, continuará crescendo.
A tendência é que os orgânicos ocupem mais espaço nas feiras que não são voltadas exclusivamente para o setor. Ganharemos visibilidade em eventos como a APAS Show, FiSA e Fispal. Será muito positivo ver os orgânicos se movimentando com desenvoltura em ambientes que ainda não foram completamente desbravados.
Outra tendência é a de ver a produção orgânica ganhando relevância cada vez maior como parte da solução das questões ambientais.
O setor deverá atrair mais iniciativas, tanto públicas como privadas, que intensificarão as ações de fomento. Com certeza, veremos mais ofertas online, orgânicos nos clubes de compras, CSA e restaurantes. Novas marcas surgirão e teremos menos plástico embalando os produtos orgânicos. A experiência bem-sucedida de ver os orgânicos em movimento nos anima a manter o otimismo para 2020, que tende a se firmar como um ano de sistematização de informações da cadeia produtiva, da semente ao cliente.
Nós, da Organis, apostamos que os produtores, os varejistas, os processadores e também os consumidores estarão cada vez mais abertos para entender e apoiar nosso manifesto por um Brasil cada vez mais orgânico e sustentável.
(*) – É Diretor Executivo da Organis ([email protected]).