Sidney Anversa Victor (*)
O governo prometeu medidas saneadoras e combate à inflação, mas não contém o déficit público.
Embora o Brasil esteja passando por um momento muito difícil, com perspectiva de recessão, inflação acima da meta e fuga de investimentos, o Governo Federal, por meio da presidente Dilma Rousseff e os ministros da área econômica, insiste em afirmar que a situação não é grave como se propala e que os fundamentos econômicos são bons. Se essa não convincente argumentação ficasse apenas no plano retórico, já seria nociva, pois é um desrespeito à inteligência dos brasileiros. O mais grave, porém, é que está balizando as medidas destinadas a combater a crise.
O resultado é que se está tratando uma doença aguda com placebos, em detrimento de todos os setores de atividade, principalmente a indústria. Nada se faz de concreto para que os setores produtivos vislumbrem a possibilidade de retomada do crescimento. Ao contrário, adotam-se providências que conspiram contra a recuperação e não se cumprem promessas cujos efeitos poderiam ajudar na recuperação.
A presidente da República prometeu energia elétrica mais barata. Não apenas se descumpriu tal meta, como aumentou muito o preço, e com risco de “apagão”. Por conta disso, a indústria está fazendo investimentos pesados em geradores de eletricidade, num momento de retração de seus negócios. O mesmo ocorre com a perfuração de poços artesianos, para se enfrentar a crise hídrica.
O governo também prometeu medidas saneadoras e combate à inflação, mas não contém o déficit público, que alimenta a escalada dos preços, estimula uma ciranda financeira em torno dos títulos do Tesouro e aguça o apetite dos especuladores. Ou será que alguém é ingênuo a ponto de acreditar que se tirando direitos previdenciários de aposentados, viúvas e desempregados promove-se a redenção da responsabilidade fiscal? Ninguém fala em cortar os altos salários dos apaniguados políticos contratados nos cargos em comissão, da festa das passagens aéreas, do excesso de ministérios e dos gastos supérfluos. Ah, sim, e do dinheiro que escorre aos borbotões pelo ralo da corrupção!
Todo esse descompasso influenciou o descontrole do câmbio, com a desvalorização do real ultrapassando o limite interessante para os exportadores e atingindo patamar letal para quem investiu em dólar para comprar equipamentos e promover atualização tecnológica. Este, aliás, é o caso da indústria gráfica. Nosso setor foi um dos que deram voto de confiança às promessas de crescimento do PIB e ajuste da economia, endividando-se em moeda estrangeira para investir. Agora, com mercado recessivo e falta de encomendas, sofre muito com o aumento significativo da amortização dos financiamentos dos bens de capital importados.
Parece, contudo, que o governo ainda não estava satisfeito com as barreiras impostas às empresas. E, então, desferiu outro duro golpe, o dos juros altos, que retrai ainda mais o mercado e agrava os custos, inibindo o consumo e encarecendo a produção.
Restava um alento: a desoneração da folha de pagamentos para cerca de 40 setores de atividade, dentre eles os segmentos de embalagens e cadernos da indústria gráfica. No Brasil, porém, prevalece aquele velho ditado de que “desgraça pouca é bobagem”. Então, cortou-se o estímulo, por meio da Medida Provisória 669, recusada pelo Senado e convertida em projeto de lei.
Num momento em que todos os seus custos aumentam e seu mercado míngua, os empresários recebem apenas um saco de maldades do governo, permeado de promessas vazias. Por isso, é hora de ampla mobilização, cívica e ordeira, da indústria gráfica, aliada a outros setores e no âmbito das federações e confederações, para cobrar medidas concretas em prol da economia. Não é mais possível resignarmo-nos ante tanto desestímulo e desrespeito a quem produz, trabalha e gera empregos.
(*) – É presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica-SP).