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Desafios da governança no mercado imobiliário

em Artigos
sexta-feira, 15 de março de 2024

Helio Gallizzi (*)

Transparência, mitigação de riscos, maximização de valor em longo prazo. A governança, assim como os demais pontos das agendas ESG (Meio ambiente e Social), já pode ser considerada fundamental para a evolução do mercado imobiliário. Cada vez mais, vemos empresas deste setor trabalhando para estabelecer as bases de um mercado saudável, com foco na confiança, na estabilidade e na prosperidade. Tanto que, atualmente, muitas construtoras reconhecidas mundialmente estão adotando práticas de ESG como parte de sua estratégia de negócios.

Como exemplo, podemos citar Lendlease, Skanskausa, China Sate Construction; aqui no Brasil, é o caso da Cyrela, Gafisa e Tenda, entre outras. Segundo uma pesquisa da PwC, realizada em 2022, os resultados ESG aparecem entre as prioridades dos investidores para os negócios. Entre as cinco grandes preocupações mais mencionadas, estão a governança corporativa, que aparece em terceiro lugar com 54% das menções, e a redução das emissões de gases de efeito estufa, que aparece em quinto, com 41%.

Embora seja unânime a ideia de que é preciso implementar boas práticas de governança, a construção desta agenda também traz desafios, principalmente por duas características fundamentais do setor: a ciclicidade, ou seja, é uma cadeia que tem uma variação importante de ciclos, e isso dificulta o planejamento e por conseguintes ações perenes, e o fato de que o segmento é, por natureza, uma cadeia com consumo importante de recursos naturais.

Com o aperto em custos, há mais dificuldade de multiplicar as melhores práticas. Mas, afinal, como enfrentar esses obstáculos e colocar em prática as ações de governança?

Muitas vezes, isso passa por ajustes nos padrões e nas métricas consistentes da empresa. A falta deles implica em dificuldades para avaliar e relatar o desempenho das ações de governança no setor imobiliário, logo, é fundamental estabelecer critérios claros e indicadores relevantes que permitam a comparação e a transparência das práticas de ESG entre as empresas.

Outro ponto importante é a complexidade regulatória. A legislação e as regulamentações relacionadas à governança podem ser complexas e variar de país para país. É essencial entender e cumprir as obrigações regulatórias aplicáveis, como as normas ambientais, direitos trabalhistas, políticas de eficiência energética e divulgação de informações. Abrindo o leque e falando de maneira mais ampla sobre governança dentro do contexto ESG, é necessário ainda educar e promover a compreensão dos benefícios da implementação de práticas sustentáveis e responsáveis a todas as partes interessadas.

Vale lembrar que a adoção dessas práticas muitas vezes requer investimentos iniciais adicionais – o que pode incluir a implementação de tecnologias verdes, a obtenção de certificações de sustentabilidade, a realização de melhorias nas propriedades existentes e a formação de equipes especializadas em ESG. Os custos envolvidos podem ser um grande desafio principalmente para empresas que têm restrições financeiras. Mas seja lá qual for a dificuldade, o setor imobiliário segue em busca de formas de superá-la. Voltar ao início está fora de cogitação, afinal, os tempos são outros.

(*) – É National Director O&A Services da Colliers Brasil (https://www.colliers.com).