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A corrosiva rejeição do “outro”

em Artigos
terça-feira, 23 de outubro de 2018

Fernando Valente Pimentel (*)

O novo presidente da República e a legislatura do Congresso, assim como os governos e legislativos estaduais, terão a missão de pacificar o Brasil, contando sempre com o suporte do Judiciário.

É fundamental restabelecer o conceito de que pessoas de diferentes partidos políticos e ideologias não são inimigos, mas sim adversários. Esta é a essência da democracia, cujas bases fundamentam-se na tolerância, na convivência com diferenças, pluralismo e respeito ao desejo da maioria.

Felizmente, temos um regime de pleno respeito e preservação das instituições e dos preceitos do Estado de Direito, garantidos pela Constituição Federal, cuja promulgação está completando expressivos 30 anos neste mês. Nossa jovem democracia mostra-se resiliente, mantendo-se intocada ante graves problemas políticos e uma das mais danosas crises econômicas de nossa história.

As eleições revigoram o Brasil, viabilizam a legítima alternância no Poder Executivo e a renovação do Legislativo, suscitam o debate de ideias e colocam novas propostas para a solução dos problemas nacionais. Tudo isso é muito positivo. Nas eleições deste ano, mais do que nunca, observou-se mais engajamento da sociedade, inclusive os jovens, nos debates e discussões sobre o presente e o futuro.
Essa mobilização é saudável e deve ser mantida após o pleito, incorporando-se à cultura política dos brasileiros. Precisamos do permanente diálogo, diversidade de ideias e cobrança das autoridades, num exercício republicano e produtivo da cidadania.

No entanto, as divergências político-ideológicas não podem fomentar o ódio, a agressividade e a divisão nacional. Esse tipo de comportamento nem faz parte da índole serena, pacífica e solidária do povo brasileiro, constituído por numerosas etnias e sempre caracterizado pela tolerância e convivência harmoniosa.

Temos observado uma corrosiva rejeição do “outro” e não aceitação, com crescente e perigoso radicalismo, da opinião do próximo. As redes sociais replicam mensagens de ódio e revanchismo, incluindo agressiva discriminação contra segmentos da população e regiões brasileiras.

Assim, é prioritário restabelecer o diálogo, a serenidade e a interação pacífica entre todos os indivíduos e a sociedade. Sem esse reencontro com a alma serena, prudente e sensata dos brasileiros, será muito difícil solucionar os problemas nacionais, cujo equacionamento exigirá discussões, entendimento, sacrifícios e o empenho de todos, a começar pelas autoridades dos Três Poderes.
Por isso, é muito importante a pacificação dos ânimos por parte dos eleitos legitimamente nas urnas de outubro. Não podemos nos dar ao luxo de, seccionados pelo radicalismo e incapacidade de estabelecer espaços de diálogo, permanecer com um índice de crescimento muito abaixo de nosso potencial e das demais nações emergentes. Todas têm problemas, inclusive políticos, mas estão prosperando.

Se, em vez de 2,5%, o Brasil tivesse crescido 4% ao ano, em média, nas três últimas décadas, nossa renda per capita estaria em torno de 15 mil dólares e não 10 mil, em valores correntes. Assim, é premente pacificar o País para viabilizar as reformas estruturais, vencer o desequilíbrio fiscal, a insegurança jurídica e a burocracia, promover a modernização do Estado e colocar a economia no círculo virtuoso do crescimento sustentado.

Este é um compromisso a ser assumido com responsabilidade pelos novos governantes, as lideranças nacionais e a sociedade, viabilizando a construção de um Brasil melhor!

(*) – É o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).