Marcel Omaki (*)
O Brasil já tem mais de 60% de sua população conectada à internet e os smartphones têm contribuído no processo de inclusão em grande escala.
Também na vida corporativa a conectividade trouxe agilidade na comunicação e virou uma aliada do dia a dia. Ninguém discute a importância da CLT para pautar direitos e deveres que precisam ser respeitados. Não é essa a questão. Mas, precisamos ser realistas e admitir que temos hoje uma regulamentação das relações trabalhistas ultrapassada em muitos aspectos.
Basta pensar que estamos falando de um sistema que surgiu na década de 40, quando a mão de obra era predominantemente rural. Existe alguma dúvida de que nos aproximadamente 70 anos que se passaram muita coisa mudou? Vivemos novos tempos, não somente na esfera tecnológica, mas comportamental também.
Meu propósito aqui é provocar a reflexão. Principalmente nos últimos 20 anos, o desenvolvimento de novas tecnologias foi muito acelerado. A economia mundial mudou, hábitos e posturas profissionais, também. Na maioria das empresas que atendemos a palavra de ordem é Inovação. Até parece lógico, não fossem as leis trabalhistas.
Mudou o perfil das empresas e dos profissionais, mas as regras do jogo são as mesmas. Elas limitam as relações, dão suporte a reivindicações que não são pertinentes, inibem iniciativas que poderiam agregar grande valor, dinamismo e possibilidades de crescimento para todos.
Hoje o home office é muito comum, com funcionários distantes, que aparecem nos escritórios uma ou duas vezes por semana, quando acontece. Pessoal de vendas, lojistas, motoristas de frotas, todos precisam ficar na rua grande parte do dia. A ferramenta de trabalho desses profissionais é o computador ou o celular. Como fazer a comunicação chegar a esses profissionais?
Ferramentas digitais partem da premissa de que não tem hora para ter a informação, ela está lá, disponível para você. A comunicação interna de uma empresa, por exemplo, precisa informar, mas não pode abrir precedente para um eventual processo trabalhista de quem cobra o direito de acessar facebook, Instagram e responder ao WhatsApp durante o horário de trabalho, mas que processa a empresa por receber e-mails fora do horário do expediente.
Enquanto a publicidade esbanja inovações na forma de atingir o público, a comunicação interna fica se debatendo com revista interna, mural, TV corporativa, intranet e outros. Garanto aos mais jovens que isso não é algo novo, na minha época já existia. Um injustiçado nessa questão é o jurídico, que normalmente barra ações que possam colocar a empresa em risco – trabalhista – é claro.
Qual a maior reclamação das pessoas hoje em dia? A quantidade de e-mails que recebemos. Qual o principal canal de comunicação da empresa? E-mails marketing e comunicados diários. Faz sentido? Não, mas vai trocar pelo quê? Somos dependentes da tecnologia. A nossa pressa vem do fato de que acessamos tudo imediatamente, nenhum assunto fica sem resposta, nem que seja uma pesquisa rápida no Google para saber do que se trata. As pessoas não saem do celular, seja no restaurante ou em casa. É motivo de estudo nos principais centros de pesquisa do mundo. E a comunicação interna está fora dela.
Pode ser generalista, mas a maioria das empresas ainda se encontra nessa situação. Outro lado da tecnologia é a inovação na forma de pensar a comunicação. Faz um bom tempo que entendemos que uma boa comunicação começa com um bom trabalho de diagnóstico. Entender como as pessoas pensam e traçar um bom perfil do seu público faz toda a diferença. E é ai que a tecnologia nos ajuda a inovar. Utilizando as mesmas técnicas da publicidade, temos como fazer a informação chegar de forma inteligente. A comunicação interna não precisa, e não deve ser, a mesma para todos. Essa é a maior inovação que podemos oferecer para as empresas.
Isso não é um trabalho que acontece do dia para a noite, mas a partir do momento em que você inseriu a tecnologia na estrutura da comunicação, esse trabalho é para sempre. Um caminho sem volta. A área de comunicação interna que ainda pensa planejamento com datas comemorativas, infelizmente, está parada no tempo, sinto informar. É preciso comunicar a estratégia, esclarecer sobre o que está de fato acontecendo, a importância de certas atitudes e investimentos, apoiar processos de transformação. A comunicação interna tem que gerar significado.
Como você espera engajar pessoas, se o que você comunica gira em torno do RH e Qualidade de Vida? A comunicação interna é a forma de a empresa falar com as pessoas, e se ela fala somente sobre esses assuntos, é isso o que fica. A empresa precisa mais do que nunca inovar, ser mais estratégica e efetiva na hora de comunicar-se.
Os desafios estão aí. Não são poucos. Renovar a forma de pensar e de se relacionar com o mundo é condição imperativa para quem quer manter-se no jogo.
(*) – É sócio e diretor da fmcom – Consultoria em Comunicação Estratégica.