Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Meio Ambiente Urbano da Academia Chinesa de Ciências, em parceria com um colega da Universidade Reichman de Israel, realizou um estudo para estimar a quantidade de lixo eletrônico que será gerada nos próximos anos devido ao crescimento da inteligência artificial generativa (IAG).
Vivaldo José Breternitz (*)
Publicados na revista Nature Computational Science, o resultado dos estudos quantifica o impacto ambiental dos aplicativos de IAG, como o ChatGPT, Copilot e Gemini, ao considerar todos os dispositivos eletrônicos, desde placas de circuito até baterias, que são utilizados para processar esses aplicativos e que devem ser descartados ao final de sua vida útil.
A pesquisa destaca que, apesar do sucesso dos aplicativos de IAG, um aspecto frequentemente negligenciado é a infraestrutura de hardware necessária para processa-los. Esses aplicativos demandam grande quantidade de energia e são executados em centros de dados e servidores equipados com grandes e poderosos computadores.
Esses computadores tem uma vida útil limitada e, ao serem substituídos, geram um volume significativo de lixo eletrônico. O estudo buscou quantificar esse impacto ambiental nos próximos anos.
No estudo, os pesquisadores consideraram fatores como a quantidade de hardware utilizada em um centro de dados padrão, a vida útil média dos componentes e a demanda projetada para aplicativos de IAG nos próximos anos.
Utilizando um modelo computacional, eles estimaram que o uso de IAG pode gerar entre 1,2 e 5 milhões de toneladas de lixo eletrônico até o final da década – o número dependeria de que forma o processamento de IAG se desenvolveria, levando em conta intensidade de uso, restrições geopolíticas à importação de semicondutores e velocidade do desenvolvimento hardware, que poderia aumentar ou não a velocidade do processo de sua substituição.
De forma simplista, se as estimativas se confirmaram, o boom de IAG poderia gerar um volume extra de lixo eletrônico equivalente a jogar fora 13 bilhões de iPhones por ano até 2030.
Para mitigar o problema, os pesquisadores sugerem a adoção de estratégias de economia circular ao longo da cadeia de valor de IAG, o que poderia reduzir a geração do lixo eletrônico em até 86%.
Deve-se lembrar que agências da ONU divulgaram recentemente relatórios dando conta que a geração de lixo eletrônico está aumentando em todo o mundo, enquanto as taxas de reciclagem permanecem baixas e provavelmente cairão ainda mais.
Segundo esses relatórios, cerca de 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico foram geradas em 2022. Esse número pode chegar a 82 milhões de toneladas até 2030 o que ressalta a importância de medidas como as sugeridas pelos autores do estudo.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].