David Braga (*)
As empresas que não se conectarem aos aspectos de compliance, gestão humanizada e diversidade terão cada vez menos espaço em nossa sociedade, que tem cobrado com maior veemência a coerência e a atualização de valores, bem como práticas de respeito aos direitos de cada um.
No que tange à diversidade, no entanto, ainda são poucas as organizações que, de fato, saem do discurso e aplicam, na prática, ações referentes ao tema. De toda forma, o que vemos é uma evolução do cenário, mesmo que a passos mais lentos do que a sociedade espera. Exemplo disso é o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+, movimento nascido em 2013 com 16 empresas interessadas em debater o tema e incluir práticas mais assertivas, que conta hoje com 176 corporações.
Especificamente quando se trata de idade, o discurso, na maioria das vezes, está descolado da realidade em relação a profissionais acima dos 55 anos: o corpo diretivo das empresas e as áreas de recursos humanos manifestam desejo em ter pessoas diferenciadas para a entrega dos resultados corporativos, mas esse interesse continua atrelado ao mindset e às solicitações da década de 80, contratando usualmente profissionais entre 40-50 anos. Situação que precisa ser revista com urgência, uma vez que a multiplicidade de conhecimentos, experiências e competências, sem falar nas formações acadêmicas e ideias, é que gera a tão comentada inovação, além de garantir mais competitividade nas corporações.
O mercado de trabalho está passando por mudanças significativas em relação à inclusão de profissionais acima de 60 anos. Antigamente, havia uma cultura que associava aposentadoria à idade, mas na atualidade há uma maior compreensão do valor e da contribuição que os profissionais mais experientes podem trazer para as organizações, afinal, eles carregam uma vasta experiência acumulada ao longo de suas carreiras, aspecto que vem sendo altamente valorizado por empresas que buscam conhecimento especializado, capacidade de tomada de decisões e habilidades de resolução de problemas.
Este é um assunto que deve ser discutido nos conselhos de administração e board das corporações, em função da sua importância e por estar totalmente atrelado à governança corporativa. As empresas mais estratégicas já entenderam isso e têm não apenas atraído essas pessoas, como também criado programas para esse público. Um dos sábios caminhos para garantir a perenidade, a inovação e a relevância ao longo do tempo é saber mesclar o time de talentos com variadas idades e competências.
A experiência pode ser um diferencial competitivo, principalmente em setores que requerem conhecimentos mais aprofundados ou bem específicos de determinado setor. Atuando como headhunter – famoso “caça-talentos”, percebo, em síntese, que muitas empresas querem inovar e se atualizar, almejam a senioridade dos candidatos, porém, o indicado ao cargo não deve ser velho. Para níveis gerenciais ou diretoria, é frequente ouvir a expressão: “entre 35 e 45 anos”, sem contar as companhias nas quais os colaboradores se aposentam, compulsoriamente, aos 65. Diante deste cenário, questiono para onde tem ido o know-how desses profissionais seniores que estão sendo expurgados das companhias?
Nos últimos meses, a temática do etarismo ganhou o debate midiático em diversas áreas, não só no ambiente profissional, mas sob o aspecto dos relacionamentos amorosos, no setor da moda e na sociedade em geral. Um sinal de que o tema é relevante. No âmbito profissional, as pessoas mais experientes e maduras têm buscado se manter competitivas quanto à aquisição de novos conhecimentos, flexibilidade, resiliência e abertura mental, pois querem permanecer em suas atuais posições ou até mesmo conquistar outras de maior robustez.
Saliento que não importa a idade, mas, sim, o que cada um faz com aquilo que aprendeu e o que pode ser usado de forma prática no ambiente corporativo, seja para reduzir custos, seja para aumentar o faturamento. A aposentadoria tardia tem sido cada vez mais normalizada em nossa sociedade. Muitas pessoas estão optando por adiar o encerramento das atividades laborais por motivos financeiros, pessoais ou simplesmente porque desejam continuar ativas e envolvidas no mercado de trabalho. Com o aumento da expectativa de vida, é comum que as pessoas busquem manter uma vida profissional produtiva mesmo após os 60 anos.
Todavia, os profissionais maduros, também conhecidos como os 60+ que ficaram parados no tempo, não buscaram novos conhecimentos e que não têm acompanhado as tendências atuais e futuras, com certeza serão os próximos a serem substituídos dentro das organizações. É preciso se reinventar diariamente. Dentro das empresas há espaço para todos os profissionais. Inclusive os 55+, que carregam bagagem robusta de vida pessoal e de experiências profissionais e podem continuar contribuindo com as organizações.
O grande ponto é: você ainda se sente um profissional que agrega valor? A adaptação às mudanças tecnológicas e às novas demandas do mercado de trabalho é fundamental para trabalhadores de todas as idades. Investir em aprendizado contínuo, adquirir novas habilidades e se manter atualizado pode aumentar as chances de sucesso no mercado de trabalho, independentemente dos anos de vida que carregamos.
É importante destacar que ainda existem desafios a serem enfrentados, como possíveis estereótipos relacionados à idade e a competição com profissionais mais jovens. No entanto, com uma abordagem proativa, a busca por oportunidades e a valorização de suas habilidades únicas, profissionais acima de 60 anos podem encontrar espaço e contribuir de forma significativa no mercado de trabalho atual.
E muita gente questiona qual o futuro dos profissionais acima de 60 anos? É o futuro que ele quiser. Todavia é importante lembrar que o futuro é construído com ações e decisões do hoje, ou seja, do presente. Sendo assim, o que você anda lendo? Quais tecnologias têm usado? De quais rodas de discussões você tem participado? Sua opinião tem sido requerida pelos seus colegas de trabalho? Você tem se tornado referência em algo? Essas perguntas podem ser respondidas do estagiário ao presidente, independentemente da idade, afinal elas definirão quem serão os profissionais de sucesso ou aqueles que podem facilmente ser substituídos.
Portanto, estar e ser conectado, agregando pessoas com diversidade de ideias e gerações, é primordial para se desafiar como líder e construir novos resultados. Sempre de forma colaborativa, que é o novo mote das organizações. Com o boom dos avanços da inteligência artificial, muitos profissionais têm se questionado se suas atividades poderão ser automatizadas, seja ele um jovem de 20 ou um experiente de 60 anos. Somente aqueles que se tornam necessários e garantem resultados no curto, médio e longo prazos, terão espaço no ambiente competitivo das organizações, independentemente de idade, raça, cor ou gênero.
(*) É CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países pela Agilium Group; é conselheiro de Administração e professor convidado pela Fundação Dom Cabral; além de conselheiro da ABRH MG, ACMinas e ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent