Andreia Cristina Andreatta (*)
Os avanços tecnológicos são responsáveis por mudanças em todos os campos da vida pessoal e profissional, trazendo não somente uma transformação digital, mas também cultural. Na área do Direito, os escritórios de advocacia e departamentos jurídicos, assim como seus profissionais, precisam se adaptar às novas formas de trabalho e de relacionamento.
A partir do acompanhamento e de pesquisas diárias das movimentações neste setor, que acompanho há 14 anos, venho apontar 5 tendências de atuação no segmento jurídico para 2022, que desenham um panorama sobre o mercado atual, que gira em torno de dados e de advocacia humanizada. Mas antes de apresentá-las, é preciso citar alguns motivos para se atentar a estas tendências. O primeiro é a necessidade de atualização.
Por mais que a Advocacia seja considerada uma área tradicional, não há mais espaço para pensamento obsoleto. As mudanças ocorrem mesmo que as pessoas não queiram, e quanto maior for a resistência a essas mudanças, menor será a relevância no mercado, que hoje lida com novos formatos, processos e relações.
O conceito de Advocacia 4.0 introduziu a tecnologia na rotina de escritórios e departamentos jurídicos. Muitas soluções foram integradas para auxiliar o trabalho dos advogados, como os sistemas de assinatura eletrônica e os softwares jurídicos, que organizam as atividades dos escritórios, promovendo automação, agilidade e maior produtividade.
O conceito foi atualizado para Advocacia 5.0, que tem como foco aproveitar essa integração para oferecer um serviço mais humanizado. Como o perfil do cliente mudou, está mais exigente, o profissional de Direito precisa gerar valor para se posicionar no mercado.
Ao conhecer as tendências de atuação, ele certamente verá que estas tendências têm íntima relação com os novos perfis de clientes da advocacia. Por isso, é preciso compreendê-las para oferecer um atendimento 100% focado no cliente e em suas demandas. Entender esse novo contexto empresarial no qual estamos inseridos é fundamental para saber como as tendências de atuação para profissionais do Direito podem ser impactadas (e se justificam).
Eis aqui 5 tendências de atuação:
- – Direito Digital – Com um mundo que se insere cada vez mais no ambiente digital, esta é uma área em constante crescimento, com grande variedade de opções para atuar, que não se restringe a crimes digitais, proteção de dados e cibersegurança. O advogado pode ter clientes pessoas físicas e jurídicas, pois o Direito Digital se relacionará com todas as demais áreas do Direito.
É necessário estar sempre atento às novas realidades digitais (como tributação da economia digital, internet das coisas, entre outras), sendo fundamental conhecer o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
- – Compliance – Área em crescimento no Brasil, o compliance está entre as tendências de atuação para profissionais do Direito por ser um conjunto de ferramentas estratégicas que servem para concretizar a visão, a missão e os valores de uma empresa, algo fundamental para alavancar os resultados de um negócio.
O advogado responsável deve realizar a gestão de riscos legais e regulatórios, e também definir padrões e procedimentos legais e éticos de atuação. Ele pode atuar com prevenção de conflitos de interesse, transparência na condução dos negócios, combate à lavagem de dinheiro, entre outros pontos.
- – Direito Empresarial – Seguindo a mesma lógica do compliance, o Direito Empresarial continuará sendo uma das tendências de atuação para profissionais do Direito. Atualmente, o advogado é considerado um estrategista nas empresas, um parceiro de negócios, especialmente em casos de compliance, recuperação financeira e judicial.
Sua atuação pode ser como consultor externo ou como integrante do departamento jurídico. Independente de como irá atuar, é importante que seu conhecimento de negócios envolva também as tecnologias que permeiam toda a empresa e os seus clientes.
- – Direito Ambiental – A sustentabilidade começou a ser discutida com vigor há alguns anos, mas atualmente o estado é de extremo alerta. Empresas buscam profissionais capazes de pensar soluções sustentáveis para melhorar sua imagem no mercado, prevenir a prática de condutas ilegais e evitar eventuais sanções. As implicações jurídicas pertinentes a esse tema são inúmeras, motivo pelo qual é preciso ter profissionais exclusivamente dedicados a elas.
Neste panorama, as empresas têm dado maior atenção aos critérios ESG, que dão a elas maior competitividade no mercado interno e externo, pois indicam solidez e resiliência frente à vulnerabilidades e incertezas, melhor reputação e custos mais baixos.
- – Data Protection Officer ou DPO – O Data Protection Officer (encarregado de dados) é uma ocupação que surgiu com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Sua atuação é guiada por transparência e responsabilidade. Isso significa que ele deve deixar claro para os stakeholders quais são os dados coletados e a sua finalidade, além de conscientizar a empresa sobre o uso desses dados de forma segura e ética.
Para que isso aconteça, ele deve ter conhecimento técnico sobre segurança de dados e privacidade, com habilidades de interação entre diferentes áreas. O advogado trabalha com governança, gestão e transparência dos dados, uma atividade fundamental em qualquer empresa que preza pela assertividade em suas iniciativas, seja interna ou externamente.
(*) – É Diretora Comercial e de Marketing da Preâmbulo Tech, empresa de tecnologia focada no segmento jurídico (https://preambulo.com.br/).