Carlos Aragaki, coordenador da Câmara dos Contadores do Ibracon – Instituto Brasileiro dos Auditores Independentes, alerta que o impacto da pandemia nas arenas do futebol brasileiro é muito negativo. Cita como exemplo o Maracanã, cuja receita com os jogos do Flamengo, segundo a última demonstração contábil de 31 de dezembro de 2019, foi de R$ 109 milhões. “Este montante é maior do que o total (transmissão, patrocínio, negociação de atletas, bilheteria, royalties) de qualquer um dos 20 clubes que participaram do campeonato brasileiro da Série B em 2018”, compara.
Ou seja, perda significativa será decorrente da falta de público nos jogos, problema que persistirá após o retorno do futebol, que terá portões fechados até que seja possível encerrar o isolamento social. “É o caso, por exemplo, da Bundesliga: o campeonato alemão que já retornou, mas ainda sem torcida”, explica o especialista. Outro exemplo é o do Allianz Parque. Segundo apurou a Jovem Pan, nos últimos cinco anos, realizaram-se no local 84 shows, sendo 58 internacionais e 26 nacionais. A receita desses espetáculos dificilmente retornará este ano ou no início de 2021.
“Trata-se de um impacto devastador em qualquer fluxo de caixa e que requererá um esforço significativo para avaliação da viabilidade econômica de cada modelo de arena”, o que dá indícios da necessidade de impairment, ou seja, avaliação para verificar se os ativos da empresa estão desvalorizados, observa Aragaki. Também serão perdidas as receitas decorrentes do tour pelas instalações e seus museus, que somente podem ser realizados virtualmente, e as de aluguel para fast foods, lanchonetes, restaurantes, lojas de conveniência e academias que funcionam nas arenas e são parte marcante de seu conceito de negócio.
Isso demandará renegociações de contratos e implicará mais prejuízos. Ademais, muitos clubes já estão tendo de negociar a devolução dos tickets ou criar créditos futuros, com descontos, no âmbito dos programas de sócio-torcedor, o que pode resultar em alterações no reconhecimento de receitas. Ainda existem os casos de redução das receitas decorrentes de aluguéis de jogos de futebol, como ocorrido com clubes que disputaram partidas em outros estados, vendendo os mandos de campo.
Essa modalidade, sem público, perde toda a sua força. “Finalmente, também com grandes consequências e impactos nas contas, teremos as negociações para redução das perdas com os patrocínios e naming rights”, salienta Aragaki, ponderando que será necessário reduzir os custos, o que não é tão simples no caso das arenas, cuja manutenção é bastante dispendiosa. Tudo isso pode resultar em uma deterioração significativa na situação econômica de algumas entidades, que podem gerar incerteza relevante relacionada com a sua continuidade operacional. Fonte: (www.ibracon.com.br).