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em Manchete Principal
terça-feira, 09 de junho de 2020

Grazielle Ueno Maccoppi (*)

Que o tempo seja o grande e valioso bem, onde independentemente do destino escolhido, as horas e dias passados ali deixem marcas significativas em cada indivíduo. Pensar no favorecimento do tempo em detrimento da quantidade de destinos visitados é renegar parte da estrutura do turismo que conhecemos até hoje.

O chamado over tourism, que é caracterizado pela prática em larga escala, que lota aeroportos e destinos turísticos, sobrecarregando infraestruturas e é altamente prejudicial a comunidade local por afetar a tranquilidade nativa, será renegado. É o momento de reconhecer o pequeno, está posta a oportunidade para destinos de pequeno porte, para atrativos simples e sem reconhecimento internacional.

Viabilizar estruturas com poucos recursos e favorecer as viagens em pequena escala, parecem como a única alternativa para saciar o desejo humano em descobrir e desfrutar do ambiente natural frente a pandemia. As mesmas viagens que até outrora eram desprezadas pelos grandes empreendimentos hoteleiros, pela falta de infraestrutura, são atualmente um diamante a ser moldado.

Foi necessária uma paralisação mundial, um bloqueio na movimentação automática de pessoas para se reconhecer e promover a reconexão humana com os elementos naturais fundamentais para o bem-estar humano. Frente a este cenário de modificação, instabilidade e incertezas, reflete-se sobre três questionamentos fundamentais para a recuperação do setor turístico.

1. Quais os efeitos da pandemia no turismo brasileiro e no mundo?
As pessoas estão sendo convidadas a modificar seus padrões comportamentais, suas formas de interagir, de trabalhar, suas rotinas, seus hábitos e até a forma de se comunicar. Com isso, o consumo por viagens e pelo turismo também está sendo modificado.
O sol, a brisa do mar, o cheiro da terra e a conexão com os elementos da natureza estão sendo recalculados por todos nós.

Como efeito de toda crise que estamos vivenciando espera-se que o consumidor adquira maior consciência dos elementos reais que formam uma viagem. Para além da escolha dos meios de transporte e de hospedagem a viagem tem por fundamento a conexão interna consigo, com aqueles em que se escolhe como companhia e com o destino que se visita.

Espera-se como impacto direto da Covid-19, que viagens mais intimistas recebam a sua devida valorização, menor impacto aos recursos naturais e mais valor, não econômico, mas de significados a cada indivíduo. O consumo do turismo em larga escala, será revisitado e modificado de maneira ampla e definitiva. Que as viagens sejam eminentemente formas de fortalecimento das relações humanas em detrimento de formas de consumo exacerbado ou de reprodução de status ou posição social.

As belezas naturais das Cataratas do Iguaçu (PR) poderão ser novamente apreciadas pelos turistas. Foto: Zig Koch/MTur

2. O que as pessoas que atuam na área do turismo podem fazer para se recuperar após o fim do distanciamento social?
Toda a cadeia turística está sofrendo de forma direta os impactos da pandemia, e muitas discussões buscam contribuir com as possíveis formas de se recuperar. Tudo ainda é incipiente, não há respostas prontas ou fórmulas mágicas.

O que se sabe em relação aos negócios turísticos é que eles sofrerão uma modificação estrutural no que se refere aos cuidados sanitários, aos controles de número de visitantes e até em relação aos padrões de consumo. Empreendimentos que se voltarem para a oferta de experiências únicas com o destino, com respeito ao ambiente natural e as tradições locais, parecem mais apropriados a esta nova realidade mundial.

O desejo de viajar e estar conectado com os elementos naturais estão sendo potencializados com o isolamento, é da na natureza humana a necessidade de descoberta e de encantamento com o meio ambiente.

Além disso é necessário que o empreendimento observe o consumidor como um aliado em todo o processo – o papel do cliente se inferioriza frente a parceria que passa a ser construída entre cliente e empresa. Somos todos parceiros na superação do desafio posto. Sendo assim, a comunicação entre destino turístico e consumidor é baseada na honestidade, de forma direta e clara – estabelecendo uma rede de fortalecimento e de ajuda mútua.

Deixe o seu cliente saber dos seus principais desafios e deixe que ele decida como ajudá-lo em cada uma das etapas do processo. Certamente além de consumir uma viagem mais consciente ele também estará disposto a participar ativamente da sua recuperação.

3. Como é possível se preparar para situações como essas no futuro?
Não há como se preparar para situações semelhantes. Acredito na modificação estrutural do consumo e da oferta de produtos e serviços de forma diferenciada e inovadora. No turismo, o cenário nacional se configura como uma oportunidade de desenvolvimento único. Muitos darão preferência para viagens internas, para pequenos deslocamentos e para a segurança de permanecer em seu território.

Set of famous landmark vectors

O desejo de viajar e estar conectado com os elementos naturais estão sendo potencializados com o isolamento, é da na natureza humana a necessidade de descoberta e de encantamento com o meio ambiente. O turismo nacional recebe por este movimento uma oportunidade única de ser alavancado e valorizado pelo seu público de forma especial.

Que a sensibilidade do momento nos permita conectar e fomentar a descoberta das potencialidades locais e a valorizar os espaços e os atrativos nacionais.

(*) – É coordenadora dos cursos de Gestão de Turismo e Gestão Empreendedora de Serviços do Centro Universitário Internacional Uninter.