Caio Fernandez (*)
Está mais do que claro que a pandemia do Coronavírus trouxe efeitos que ficarão marcados em nossa história, mas principalmente em nossa economia.
Hoje, por causa do isolamento social recomendado pela Organização Mundial da Saúde e Ministério da Saúde para preservar vidas, vivemos com o cenário marcado por lojas, fábricas e parques fechados, além das atividades humanas paralisadas de uma maneira geral. Para quem ainda não entende isso muito bem, costumo chamar de efeito dominó. Imagine que as pessoas devem ficar em casa, e uma boa parte delas trabalham, como em uma fábrica por exemplo.
Se esses trabalhadores não estão ativos, a fábrica irá produzir menos, logo terá um lucro menor ou até mesmo um prejuízo, cabendo ao dono da fábrica mandar alguns funcionários embora.
Agora esse mesmo funcionário está sem emprego, logo inicialmente vai cortar todos os gastos considerados “desnecessários”, como o churrasco do final de semana, diminuir o plano de internet, deixar de fazer aquela viagem, entre outros.
O problema agora mudou, pois o açougue que vendia carne para o churrasco, a empresa de internet e a agência de viagem vão faturar menos, e em muitos casos, o prejuízo chegará no final do mês, fazendo com que os donos também demitam seus funcionários, que por sua vez farão a mesma coisa como o trabalhador da fábrica, deixarem de consumir.
Esse ciclo acaba se multiplicando e desincentivando os gastos, fazendo com que pequenas e médias empresas fechem as portas por precisarem do consumo. De de uma maneira mais macro, desacelerando toda a economia e dependendo do prazo fazendo com que o mundo entre em uma recessão.
O meu ponto não é dar uma aula sobre economia, mas sinalizar que no cenário atual, alguns consumos possam não estar extintos, mas apenas reprimidos. As pessoas não estão saindo de casa, logo não estão cortando o cabelo, estão adiando aquele Happy Hour, deixando de tomar um sorvete na praça e deixando de gastar no cartão de crédito.
Em algum momento, quando a população se sentir segura para sair de casa, teremos uma explosão de demanda por esses bens e com algum dinheiro guardado (seja excesso de crédito/limite no cartão ou até mesmo aquele salário que “pingou” e não foi utilizado) , podendo resultar em uma aceleração do consumo talvez nunca vista. Isso é o que eu chamo de demanda reprimida, ou uma mola encolhida, quanto mais você aperta, mais força ela vai guardando e uma hora, não se sabe quando, ela volta com tudo.
Obviamente ao olharmos no curto prazo, vemos muitas notícias ruins e um cenário totalmente desafiador, porém se formos imaginar que o mundo não irá acabar, e por histórico de grandes crises que passamos, as coisas tendem a voltar ao normal no médio e longo prazo, basta sobrevivermos até lá.
(*) – É CEO da IVEST (https://ivest.com.br/), consultoria de investimentos e consultor de investimentos CVM (Comissão de Valores Mobiliários).