![](https://assets.jornalempresasenegocios.com.br/2020/03/4713-scaled.jpg)
Dhyego Pontes (*)
Hoje em dia, é quase impossível não conhecer o termo, seja pela propagação constante nas redes sociais ou pelo forte teor apelativo em programas de televisão. Além de qualquer superficialidade, o bullying é um assunto que requer seriedade e cuidado em sua abordagem, afinal, exerce uma influência extremamente negativa aos que sofrem diariamente com esse mal.
Quando adentramos o contexto empresarial, observamos uma situação igualmente delicada: os profissionais brasileiros estão sofrendo com bullying, assédio moral e perseguições, fatores que não só prejudicam o rendimento prático, como ocasionam traumas e danos psicológicos irreversíveis.
![](https://assets.jornalempresasenegocios.com.br/2020/03/shutterstock_44887873-696x445.jpg)
Para ilustrar a gravidade do cenário nacional, um levantamento realizado pelo Kantar Inclusion Index, índice global de inclusão e diversidade no trabalho, apontou que cerca de 41% dos funcionários brasileiros relatam sofrer algum tipo de bullying nas empresas que trabalham. Já no ranking de 14 países mais inclusivos, o Brasil estagnou na 7ª posição. Como entender os motivos por trás dessa instabilidade comunicacional? É possível amenizar e até solucionar o quadro? O primeiro passo para combater o bullying é simplesmente falar sobre ele!
Antes de partirmos para soluções práticas, temos o dever de destacar que não existe qualquer possibilidade de relativizar comportamentos tóxicos. Nada justifica atitudes destrutivas e as consequências e traumas psicológicos provocados por essas atitudes falam por si só. Nos corredores corporativos, ainda mais em companhias cuja pressão por uma competitividade gradual é colocada acima da razoabilidade, encontramos um caminho suscetível para que pessoas mostrem o seu pior.
Pessoas de todos os gêneros, crenças, etnias e orientações sexuais estão sujeitas a passar por situações humilhantes e constrangedoras.
Colegas que se divertem às custas de um alvo-fácil, brincadeiras de gosto minimamente discutível que, aparentemente, são inofensivas, o uso de palavras que enquadram casos de assédio moral, são apenas alguns dos vários componentes dessa condição deplorável. Pessoas de todos os gêneros, crenças, etnias e orientações sexuais estão sujeitas a passar por situações humilhantes e constrangedoras. Como exigir um desempenho aceitável de um profissional inserido nesse contexto?
Sob a ótica da lei, podemos dizer que o bullying se enquadra como abuso passível de punição e até indenização por danos morais, de acordo com a gravidade e particularidade de cada caso. Foi somente em abril de 2019, no entanto, que a discussão sobre assédio moral no ambiente de trabalho chegou ao Congresso, com a aprovação da emenda que tipifica o crime no Código Penal. O projeto se encontra em tramitação no Senado.
Não se deve esperar que a situação chegue ao estopim. O simples fato de existir um espaço coletivo que possibilite casos de assédio já é motivo suficiente para que os líderes adotem medidas preventivas.
Inicialmente, mostra-se essencial a aplicação de uma política de intolerância severa, contra todos os tipos de agressão, física ou moral.
![](https://assets.jornalempresasenegocios.com.br/2020/03/21032-1024x683.jpg)
Canais de comunicação abertos também incentivam uma maior transparência interna, facilitando que possíveis vítimas coloquem para fora queixas e relatos ocorridos. A conscientização também deve ser geral. Ao demonstrar essa sensibilidade e preocupação, o profissional de cima estabelece uma linha inquebrável para que os funcionários sigam. Treinamentos são bem-vindos, buscando a elucidação do que é passível de punição em termos de bullying.
Empatia é uma palavra que tem se tornado cada vez mais necessária nos dias atuais. E aqui funciona igualmente como um motor para a mudança. Em muitos casos, subestima-se a ocorrência de situações características de bullying, ou prefere-se fechar os olhos em prol de uma falsa sensação de harmonia organizacional.
Ignorar as consequências que um ambiente interno comprometido traz para uma empresa não é só flertar com punições severas e casos judiciais, mas colocar o futuro da organização nas mãos de profissionais psicologicamente doentes. O agressor, por sua vez, poderá utilizar de sua falta de profissionalismo para fomentar um panorama insustentável. Olhar para as vítimas com a responsabilidade de gestores conscientizados é o mínimo que se espera de uma organização séria.
![](https://assets.jornalempresasenegocios.com.br/2020/03/3672-1024x683.jpg)
Se ousamos transformar a realidade empresarial em relação a temáticas, como compliance, cultura interna, tecnologia, não há razão alguma para não priorizar o elemento responsável pelo andamento operacional das empresas: as pessoas. O tempo de assimilar a existência do bullying no ambiente de trabalho já passou.
É hora de enfrentar o problema de frente e oferecer, de forma ética e precisa, os meios adequados para que todos tenham o tratamento que merecem ao exercerem suas funções.
(*) – É consultor trabalhista e previdenciário da Grounds (http://grounds.com.br/).