Nos últimos anos, uma nova abordagem tem ganhado destaque nas empresas: o investimento sustentável, representado pelas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Com a crescente influência da inteligência artificial, automação e mudanças climáticas, juntamente com um mundo marcado por polarizações, desigualdades e instabilidades, encontramo-nos em um ponto de virada fundamental na forma como concebemos o trabalho. A sustentabilidade não é apenas uma questão ética, mas também pode impulsionar o desempenho financeiro e a perenidade das corporações.
Dados de 2023 revelam uma tendência interessante: empresas comprometidas com práticas ESG consistentes estão colhendo benefícios financeiros significativos. Um estudo do índice S&P 500 ESG, conduzido pela S&P Global, demonstrou que esse índice superou o índice tradicional S&P das 500 maiores em 3,4%. Esse diferencial não pode ser ignorado e evidencia a tese de que é possível ter retorno financeiro associado às práticas ESG robustas.
Outro estudo conduzido pela MSCI revelou que as empresas com sólidas práticas ESG não apenas mostraram menor volatilidade nos mercados, mas também reduziram seu risco de crédito durante o tumulto econômico de 2023. Essa resiliência em face da incerteza econômica destaca o valor intrínseco das empresas que priorizam questões ambientais, sociais e de governança.
A pesquisa da PwC, embora não tenha uma versão posterior a 2022, mostra que 83% dos CEOs acreditam no aumento do valor da empresa a longo prazo através de iniciativas ESG e isso fica claro que a visão de longo prazo está alinhada com a sustentabilidade. Essa crença persistente na importância do ESG entre os líderes empresariais destaca que o movimento em direção à sustentabilidade não é uma tendência passageira, mas sim uma mudança fundamental nos paradigmas de investimento e gestão corporativa.
No entanto, é importante reconhecer que ainda há desafios a serem enfrentados no caminho para uma adoção mais ampla das práticas ESG. Muitas empresas enfrentam dificuldades na coleta e divulgação de dados relevantes sobre suas práticas ESG, o que dificulta a avaliação precisa de seu desempenho nessa área. Além disso, ainda há investidores céticos que questionam se o foco em questões ESG pode comprometer o retorno financeiro a curto prazo.
O ESG está intrinsecamente ligado aos modelos de trabalho e às escolhas empresariais associadas, tais como presencialismo, mobilidade, estrutura de custos, cultura organizacional e imobiliária, entre outros. Esses elementos desempenham um papel importante nos resultados de uma empresa, influenciando seus impactos financeiros, ambientais, sociais e de governança, assim como na comunidade em que estão inseridas. É imperativo que reconsideremos coletivamente o papel e o valor do trabalho humano nesse novo paradigma, para um um futuro mais sustentável e equitativo.
É inegável que para um futuro melhor será necessário um esforço de todos, em prol da consciência ambiental e sustentável no longo prazo. Um estudo do Fórum Econômico Mundial divulgado recentemente mostra que trabalhar 100% remoto reduz pela metade sua pegada de carbono. Não se trata apenas de atender a demandas dos consumidores ou cumprir regulamentações governamentais; trata-se de garantir a viabilidade de ações, sejam elas grandes ou pequenas, mas que possam impactar o meio ambiente na prática. Não é mais sobre discurso, mas ações concretas no dia a dia. E aqui temos um longo caminho a percorrer.
(Fonte: Fernanda Mourão, CEO da Futuro Labs).