Há algumas semanas, o governo Trump publicou ordens executivas que visam proibir que um aplicativo de origem chinesa, o TikTok, opere nos Estados Unidos, sob a alegação que o mesmo, voltado principalmente ao compartilhamento de vídeos curtos, passa ao governo chinês informações que coleta acerca dos cidadãos americanos e distribui propaganda pró-China
Vivaldo José Breternitz (*)
Sempre acreditamos que essas ordens têm um viés eleitoreiro, pois o governo Trump, extremamente preocupado com as eleições que se aproximam, estaria apenas tentando mostrar serviço em uma área que é especialmente cara ao povo americano, a da segurança nacional.
Uma alternativa à proibição é a venda do aplicativo a uma empresa americana. De forma estranha, o governo Trump envolveu-se nas negociações para venda do TikTok à Microsoft, inclusive dizendo querer uma compensação financeira caso o negócio se concretizasse.
Foi estabelecido um prazo para a venda, que se encerra em 15 de setembro. Há poucos dias, a Microsoft anunciou que não estava mais interessada na compra do aplicativo, que agora parece que ficará com a Oracle, não através de uma compra propriamente dita, mas com a empresa americana tornando-se uma parceira da ByteDance, a proprietária do TikTok.
O negócio envolveria a aquisição, pela Oracle, de uma parte das operações da ByteDance nos Estados Unidos. Essa aquisição não tornaria a empresa americana controladora do TikTok, mas a tornaria a provedora dos serviços de nuvem para o aplicativo, ou algo semelhante.
Para a concretização do negócio, ainda são necessárias algumas aprovações de órgãos do governo americano, o que não parece ser difícil, pois a Oracle tem um bom relacionamento com Trump.
No início deste ano, Larry Ellison, cofundador e presidente executivo da empresa, coordenou uma campanha para arrecadação de fundos para a campanha pela reeleição do presidente: por US$ 100 mil, os apoiadores podiam jogar golfe com o Trump e tirar uma foto com ele. E por US$ 250 mil seria possível ter esses itens e bater um papo com o candidato.
Vale lembrar também que o governo chinês pode impedir o negócio, caso prefira que o TikTok não seja vendido e suas operações nos Estados Unidos encerradas.
Será que este é o último capítulo da novela ou ainda teremos novas emoções?
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.