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Tecnologia 02 a 04/12/2017

em Tecnologia
sexta-feira, 01 de dezembro de 2017
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Pmes ainda resistem, mas automação do pagamento é um caminho sem volta

Com poucos recursos investidos em seus negócios, os pequenos empreendedores sempre tiveram que superar diversos obstáculos

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Patrick Negri (*)

As operações de pagamento são um exemplo, uma vez que as PMEs não desfrutam de muito dinheiro e tampouco de capital humano. É comum que empresas desse porte apostem em um profissional responsável pelo setor financeiro, que acaba desempenhando diversas tarefas como pagamento de contas e antecipação de recebíveis.

É bom ressaltar que hoje, 48% das PMEs brasileiras ainda não usam nenhum software para auxiliar a execução de tarefas administrativas. Apenas 22% dessas empresas estão completamente digitalizadas, e 29% usam parcialmente serviços tecnológicos, de acordo com uma pesquisa feita pela consultoria Plum para a multinacional de soluções tecnológicas Sage.

Mesmo em meio à essa resistência, as fintechs surgem como uma alternativa para otimizar a operação e reduzir gastos por meio da automatização de processos. As pequenas e médias empresas ainda contam com uma gestão manual, por vezes feita em planilhas de Excel, e ainda não aderiram completamente aos softwares de gerenciamento integrados – também conhecidos com ERPs.
O fato é que as PMEs não têm o mesmo nível de automatização de uma grande empresa. Imagine que quando essa pequena companhia precisa realizar uma cobrança, o responsável financeiro precisa entrar no bankline, cadastrar o fornecedor, e muitas vezes esses registros ficam incompletos, já que as informações não são centralizadas em um banco de dados. Diante disso, a empresa precisa emitir a cobrança por meio do banco online e acompanhar todos dias se o cliente pagou ou não.

Ou seja, as fintechs que oferecem soluções automatizadas de pagamento, facilitam o dia a dia das PMEs, uma vez que elas realizam todo o trabalho. Essas ferramentas são capazes, por exemplo, de efetuar faturamentos no dia marcado, enviar lembretes antes da data de vencimento, cobrar clientes inadimplentes e lançar todo o consumo de uma determinada conta durante o mês, para ser faturado no início do próximo mês.

Porém, essas soluções ainda não contemplam todas as dores de um empreendedor de pequeno/médio porte.”. Existem muitas soluções focadas em recebimento, mas, em contraponto, a área de envios, que é responsável por pagamento de fornecedores, ou até mesmo de salários, carece de alternativas. E é importante que se desenvolvam ferramentas com essas funções para atender as PMEs da melhor forma possível. Esse é o principal desafio do mercado de pagamentos voltado às pequenas e médias para os próximos anos.

Fora do Brasil, muitas fintechs estão se especializando em desenvolver ferramentas para o gerenciamento do fluxo de caixa e de contas a pagar e a receber. Essas soluções também têm o potencial de reduzir, e muito, os custos de uma empresa, e nosso país deve abraçar essa tendência já em 2018.

Apesar da resistência, a acessibilidade à essas tecnologias por meio de interfaces amigáveis e preços baixos deve fazer com que os empreendedores se rendam as soluções automatizadas de pagamento. Afinal, automatizar processos é benéfico para qualquer empresa, não importa o tamanho. Esse é um caminho sem volta.

(*) É CEO e cofundador da iugu, startup de automação financeira que oferece serviços completos para pagamentos e recebimentos.

O que muda com a NF-e 4.0?

GerarNFE 02 12 2017 temproario

A migração da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) para a versão 4.0 contempla alterações importantes que facilitarão em alguns aspectos o entendimento sobre as novidades tributárias introduzidas no âmbito da legislação do ICMS.
Se fosse utilizado o antigo modelo de Nota Fiscal manual (modelo 1 ou 1A), os contribuintes utilizariam a frente e o verso do documento para contemplar tantas particularidades obrigatórias a respeito do bem ou mercadoria.
De dados de pagamento, passando pelo frete, controle de fabricação, validade, identificação de ICMS, IPI, assim como aquilo que verdadeiramente interessa na relação comercial, que são quantidades e respectivos preços, a Nota Fiscal virou um hub de informação.
Agora, com a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), o documento fiscal existindo em forma digital para todos os efeitos legais, criar um, dois ou mais campos novos, um detalhe aqui outro ali, ficou muito simples, basta que o arquivo em XML tenha novas “TAG’s” e pronto. Cabe ao contribuinte emissor da NF-e correr atrás dos seus sistemas corporativos de controles e encontrar as informações e os parâmetros necessários para cumprir com a exigência.
A versão hoje em vigor da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) é a versão 3.1 e ficará valendo, ou seja, sendo aceita e autorizada pelas SEFAZ’s até o dia 02 de julho de 2018. Porém a versão 4.0 já foi amplamente divulgada através de Nota Técnica no portal oficial da NF-e. Estará disponível um ambiente de homologação, que servirá para testes das empresas a partir de 20 de novembro e um ambiente de produção a partir de 4 de dezembro. Caso não haja nova prorrogação dos prazos, as empresas poderão colocar em prática o desenvolvimento e testes da versão 4.0.
Outra melhoria, por conta da versão 4.0 da NF-e, que reputamos como providência positiva é a criação dos campos – atualmente TAG’s – para tratar dos valores relativos ao Fundo de Combate à Pobreza (FCP) instituído por quase todos os Estados brasileiros e que é cobrado junto com o ICMS. A Base de Cálculo, o Percentual e o valor do FCP estão em campos (TAG’s) específicos perfeitamente identificados no documento fiscal.
O contribuinte terá de calcular e destacar separadamente do ICMS e do ICMS Substituição Tributária o valor relativo ao Fundo de Pobreza e, quando for o caso, o valor retido por substituição tributária do Fundo de Pobreza. Essa separação deixará evidente uma forma nova de tributação implementada pelos Estados, que veio aumentar a carga tributária. Irá requerer de determinados contribuintes um tratamento diferenciado e especial para apuração e recolhimento dos valores desses Fundos Estaduais, dependendo do Estado, e para tanto terão as respectivas “TAG’s” à sua disposição.
Saindo do foco que sempre foi o objeto principal da Nota Fiscal, uma alteração muito importante na NF-e 4.0 foi a criação de um novo grupo que vai permitir a rastreabilidade de qualquer produto sujeito a regulações sanitárias, tais como produtos veterinários, medicamentos, bebidas etc. Exigirá a identificação dos números de lote, data de fabricação, data de validade, entre outros. Para o detalhamento específico de medicamento e matérias primas farmacêuticas foi criado campo para informar o código de Produto da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), fazendo parte do Grupo de Rastreabilidade de Produto. Portanto, as empresas pertencentes a esses segmentos de mercado devem já ter providenciado atentamente a forma de buscar tais informações em seus sistemas de controle de produção e estoque a partir dos cadastros dos materiais sob controle especial de movimentação.
Com a facilidade do documento digital, haja criatividade dos órgãos oficiais de controle para implementar informações complementares e, assim, criar novas versões de NF-e com novos layouts que virão. E, aos contribuintes, resta o cumprimento das normas.

(Fonte: Edmir Teles é gerente de consultoria BPO da Divisão Aplicativos da SONDA, maior companhia latino-americana de soluções e serviços de tecnologia).

O Bitcoin é uma fraude?

Pedro Paulo Silveira (*)

No livro “Episódios da História Monetária”, Milton Friedman cita a Ilha de Yap, na Micronésia, para ilustrar como a moeda, que é um bem fundamental, pode ter várias formas em diferentes épocas da história e em diversas culturas do planeta

Nesse pequeno país, os habitantes usavam pedras para servir de intermediários em suas trocas de bens e serviços. Hoje utilizamos diversos meios para realizar os nossos pagamentos, que vão desde notas e moedas metálicas, aos dispositivos eletrônicos como internet banking e celulares. A velocidade e a praticidade para efetuar as transações estão aumentando, ainda que os custos de transação ainda sejam elevados. Temos aí, um conjunto de meios de pagamento (moedas, cartões, etc) para liquidar transações financeiras em uma determinada moeda, o real, que é aceita por todos os agentes que estão no país. Devemos ter em mente que existem os meios de pagamentos e as moedas, mas essas duas coisas não se confundem. O real, por exemplo, é a moeda brasileira aceita para liquidar as transações financeiras dos agentes, que serve de referência de conta para os preços dos bens e serviços e que é usada como reserva de valor. Em todos esses casos, o real está na vida das pessoas, colocando tudo o que está em nossa volta, medido em sua unidade. Pagamos R$ 20 nos ingressos de cinema, R$ 50 mil reais em um automóvel ou aplicamos R$ 20 mil em um CDB de um determinado banco para resgatarmos R$ 20,5 mil daqui alguns meses. Todos os países têm seus preços denominados em suas moedas e têm seus meios de pagamentos para liquidar as suas transações. Esse é o mercado no qual uma moeda se estabelece: é necessário que os agentes utilizem essa moeda para liquidar suas transações, para guardar sua riqueza ou para dar preço a todos os bens e serviços. Podemos ter moedas como o dólar ou o real, ou podemos ter moedas como as pedras da Ilha de Yap, o sal, o ouro e outras formas exóticas do passado. Se uma mercadoria tem essas três características, ela pode ser eleita ao status de “ moeda”. Caso contrário, ela pode desempenhar algum papel, menos o de moeda.
É aí que entra o Bitcoin, ou alguma das mais de oitocentas moedas virtuais criadas nos últimos anos. Segundo o site coinmarketcap.com, que lista 1.113 moedas, cujo valor de mercado estimado é de US$ 124,2 bilhões. O Bitcoin surgiu em 2008 e foi idealizado por um programador de nome Satoshi Nakamoto, porém ninguém o conhece de fato. Desde então ganhou fama e adeptos, e hoje o valor de mercado da moeda é de US$ 3.633, com um estoque total de US$ 60 bilhões. Vejam, o tal Nakamoto não tem uma existência confirmada e o que os adeptos da moeda argumentam – sobretudo aqueles que a têm, que a negociam ou que a emitem – é que ela é à prova de governos, de roubo e que é uma nova invenção que revolucionará a forma como vemos o mundo. Se você realmente quer acreditar que uma moeda, que foi produzida por alguém que não tem existência confirmada, tomará o lugar das principais moedas do planeta, é necessário pensar se o Bitcoin realmente é uma moeda. Para responder a essa pergunta crucial basta nos perguntarmos se ela é aceita como meio para liquidar as nossas transações. O Bitcoin é aceito pelo comércio, por empresas de serviços financeiros ou por alguma outra pessoa? Ainda que você saiba de alguém que o aceite, essa será uma imensa exceção. Poucos o aceitam, ou o que é pior, alguns nem mesmo ouviram falar sobre. A moeda só é aceita nas plataformas de negociação online e além disso, nada no mundo é referenciado em Bitcoin. A única função na qual é reconhecida, à semelhança das outras moedas, é a de reserva de valor. Alguns milhares de pessoas no mundo têm o usado para fazer sua poupança ou para especular com o valor do Bitcoin em relação ao dólar.
Portanto, hoje o Bitcoin não é uma moeda. Pode ser que um dia ele se torne uma, mas não hoje em dia. Eu diria que é uma cripto mercadoria especulativa e não uma cripto moeda. Logo, já que você não a utilizará como meio de pagamento para suas trocas ou como unidade para as contas, você a utilizará para especular. Apesar de todo o discurso libertário de seus promotores (sites, vendedores, gurus e alguns especuladores profissionais), o Bitcoin é uma roda de especulação acerca da promessa de um meio de pagamento se tornar uma moeda. Tal como o foram os projetos de Eike Batista ou as promessas de obras para a Copa. É necessário que muita coisa ocorra até que o Bitcon vire, de fato, uma moeda. Para garantir que ela continue como uma mercadoria para especular, os promotores do Bitcoin se fiam na crença, não de todo errada, de que todos vamos confundir um bom meio de pagamentos com uma moeda. Mas não dá para acreditar que todos vamos fazer isso o tempo todo. De fato, a existência de tecnologias de transferência de valores a baixo custo e grande proteção contra as fraudes é algo que tem muito valor. As maiores universidades dos EUA têm departamentos voltados ao estudo de coisas como a criptografia e os blockchains. Essa tecnologia, que coloca nos computadores pessoais, descentralizados, os pacotes de informações necessárias para processamento das operações financeiras, descartando empresas intermediárias que cobram taxa elevadas, é realmente uma tendência e deve aumentar a eficiência da economia. Tudo o que aumente a segurança e a velocidade das transações, reduzindo os custos, colabora para o aumento do bem-estar social. É de se esperar que os agentes econômicos, racionais como são, passem a optar por esse tipo de solução como optaram pelos automóveis, pela penicilina e pelos telefones celulares. Essas novas tecnologias, que são a alma da sociedade capitalista, são um bem e não um mal. Ocorre que muitas vezes as pessoas são levadas a acreditar que “novidades” irão revolucionar suas vidas, sem antes se perguntar se essas novidades realmente são revolucionárias. Essas “novidades” fazem as bolhas que criam e destroem valor nas sociedades desde o século XVII. Essas manias fizeram as ilusões e os pesadelos de milhões de pessoas, tomando as formas de tulipas, títulos de empresas fictícias, títulos de países da América em processos de independência, ações em bolsas, negócios imobiliários, hipotecas subprime, ou sabe-se o que mais. As bolhas são uma praga de nossa economia e as moedas virtuais são a bolha do momento.
Desde que foi lançada pelo programador que talvez não exista, o Bitcoin subiu mais de 6.000.000% em relação ao dólar. Uma bolha acontece quando os preços de um bem se descolam de seus fundamentos. E um Bitcoin custar US$ 3,3 mil ou US$ 5 mil é algo tão crível como eram críveis os títulos imobiliários que inundaram o planeta e levaram à ruína milhões de pessoas em 2008. Nas bolhas todos acreditam que são espertos o suficiente para comprar no momento certo e vender também no momento certo, antes que a casa caia. As moedas virtuais têm uma propaganda vigorosa, que se espalha pela rede, com promotores bem-falantes, falando em revolução, liberdade e eficiência. Milhares de pessoas têm corrido para sustentar essa nova febre sem se atentar ao fato de que entrar e sair da criptomoeda custa caro, afinal as corretoras cobram caro pela conversão. Além disso, a demanda é inflada pela lógica das manias, presentes em todas as bolhas, e está crescendo em toda a rede. À medida que os preços dessas moedas também sobem, aumentando sua emissão, outros agentes vão lançando novas moedas. Como nada é regulado e não há limite para a emissão, espera-se um fluxo considerável de novos emissores competindo entre si. Sempre que um preço sobe em mercados que não têm barreiras à entrada ou à saída, vários agentes são atraídos para ele e a oferta é aumentada rapidamente. A competição fará com que os preços se equilibrem e que as moedas sejam transacionadas a valores muito próximos de seus custos de emissão. Como esses custos de emissão são muito baixos, a tendência é que as moedas convirjam a um valor próximo de zero. Então estamos falando de uma moeda que não é moeda, que foi produzida por alguém que não existe, que está em um mercado com oferta ilimitada e que já subiu 6 milhões por cento. E você, como todos os participantes de bolhas, acredita piamente que conseguirá sair no melhor momento antes que os preços desabem, por força dos irrefutáveis mecanismos de mercado.

(*) É Economista-chefe da Nova Futura Investimentos.