Especialistas acreditam que empresas que desenvolvem software e outras tecnologias de uso comercial estão começando a ameaçar segmentos da indústria de defesa tradicional, aqueles que produzem armas de grande porte e custo.
Vivaldo José Breternitz (*)
Ainda é muito cedo para dizer que armas sofisticadas tripuladas por humanos, como submarinos, aeronaves de ataque, de reconhecimento e outras, seguirão o caminho dos encouraçados, que se tornaram obsoletos com a evolução do poder aéreo.
No entanto, robôs aéreos, terrestres e aquáticos, muitas vezes desenvolvidos para uso civil e trabalhando em conjunto com humanos, estão passando a desempenhar papéis importantes em conflitos – evidências disso já estão surgindo na guerra na Ucrânia.
Lá, equipes formadas por humanos e máquinas, organizadas de forma rudimentar, ainda sem uso muito intenso de inteligência artificial, estão remodelando o campo de batalha, de forma especial com drones simples e controlados remotamente, aumentando significativamente a eficiência da artilharia convencional, foguetes e mísseis.
Um relatório recentemente publicado pela Reuters, discute como a automação já pode revolucionar armamentos, guerra e poder militar e que tanto as forças russas quanto as ucranianas estão começando a integrar armas tradicionais com inteligência artificial, imagens de satélite, comunicações e munição inteligente.
Kathleen Hicks, vice-secretária de defesa dos EUA, disse recentemente que as capacidades militares tradicionais continuam essenciais, mas que a guerra na Ucrânia está mostrando que tecnologias emergentes, desenvolvidas por empresas comerciais e não tradicionais na área de defesa, podem ser “decisivas na defesa contra agressões”.
Já a Special Competitive Studies Project, uma fundação privada americana, focada em tecnologia e segurança, diz que o campo de batalha na Ucrânia faz lembrar a I Guerra Mundial: um mosaico de trincheiras profundas e abrigos, onde as tropas são forçadas a se ocultar, quando possível refugiando-se em porões, para sobreviver a ataques em cujo planejamento e execução os drones tem tido papel preponderante.
Mick Ryan, general da reserva do exército australiano, disse que, neste conflito, helicópteros se tornaram tão vulneráveis que praticamente saíram dos céus, ameaçados por drones; além disso, segundo o general, observadores de artilharia baseados em solo também estão sendo substituídos por esses equipamentos.
Uma preocupação adicional é que tecnologias como essas, relativamente baratas e de fácil acesso, possam ser usadas por criminosos e organizações terroristas para atacar seus alvos.
A guerra é algo realmente triste. Inocentes pagam a maior parte da conta. Nossa esperança é que a tecnologia possa, ao menos, contribuir para minorar os sofrimentos das vítimas e tornar melhor a vida dos sobreviventes.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.