Há algum tempo o New York Times publicou um texto do professor americano Alan Hirshfeld comentando o livro “The Man of Numbers”, do matemático inglês Keith Devlin.
Vivaldo José Breternitz (*)
O texto nos faz refletir sobre algumas coisas bastante interessantes, começando por lembrar que se ainda vivêssemos sob o Império Romano, é possível que estivéssemos escrevendo que setembro é o mês IX, que a taxa de juros está ao redor de XII% e assim por diante; difícil mesmo seria dizer que o Corinthians ganhou do São Paulo por V a….??? Os romanos não tinham o zero!
O desajeitado sistema romano acabou sendo substituído pelo sistema atual, que foi desenvolvido graças aos esforços de inúmeros matemáticos, especialmente indianos e árabes. Na Europa, essa nova tecnologia foi ignorada até 1202, quando Leonardo Fibonacci, publicou uma livro chamado “Liber Abaci”, ou “Livro dos Cálculos”, detalhando o funcionamento do novo sistema.
E o interessante é que o livro, de cerca de 600 páginas, não era destinado a acadêmicos, mas sim a comerciantes, pois demonstrava como o novo sistema facilitaria os negócios; foi um sucesso instantâneo – imaginem como seria complicado calcular o preço de 298 ovelhas vendidas a 39,50 cada uma usando o sistema romano…
Escolas de cálculo espalharam-se pela Europa; ao que parece, Maquiavel e Leonardo da Vinci foram alunos delas; inúmeros mercadores de outros países europeus foram à Itália para aprender a nova tecnologia – o antigo sistema morreu rapidamente e o uso do novo acelerou consideravelmente o progresso comercial e científico.
E como Fibonacci chegou a esse ponto? Aos 15 anos deixou sua cidade natal, Pisa, na Itália, para acompanhar seu pai em uma viagem até o porto argelino de Bejaia e ali conheceu o novo sistema; ficou mais de dez anos no norte da África estudando com matemáticos árabes, até retornar à Europa e escrever seu livro.
Foi recebido com honras pelo imperador Frederico II, um intelectual, que escreveu um livro sobre a arte da falcoaria, “De arte venandi cum avibus” (Da arte de caçar com aves), do qual ainda existem muitas cópias ilustradas feitas nos séculos XIII e XIV. Frederico II era também uma figuraça: fazia-se chamar “Stupor Mundi”, a “Maravilha do Mundo”!
O livro de Fibonacci aborda outros temas, mas nosso objetivo hoje é lembrar que algo que nos parece tão natural, nosso sistema de numeração, demorou milhares de anos para ser desenvolvido e como algo que parece banal revolucionou o mundo.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.