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Nem todos são devs. Nem tudo é tech

em Tecnologia
sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Houve um tempo, não tão distante, em que os profissionais de tecnologia eram relacionados a um estereótipo de uma pessoa trabalhando de forma solitária com o seu computador.

Marcell Almeida (*)
 
Realmente, ao vislumbrar o mercado tech de forma desavisada é comum a percepção de que os requisitos de carreiras do setor se resumem a conhecimento puramente técnico. No entanto, as transformações recentes do segmento acabaram desmantelando de forma definitiva essa generalização, fazendo não só com que as habilidades sociais ganhassem espaço, mas também assumissem um papel fundamental na área.
 
Isso porque, as chamadas soft skills – tais como escuta ativa, liderança, comunicação efetiva, gestão de tempo, inteligência emocional – acompanham o profissional em todos os estágios do trabalho, desde o processo de entrevista para a conquista do emprego, até as interações rotineiras em equipe, sendo consideradas habilidades essenciais para a fluidez do time e o desenvolvimento profissional do colaborador.

Embora uma boa parcela do trabalho da área de tech esteja realmente atrelada ao uso de ferramentas tecnológicas, o cenário atual já faz com que a demanda por competências adquiridas em diferentes áreas e background – incluindo Humanas – proporcionem um olhar mais voltado para o mundo dos negócios, análise de dados, contato com o cliente, e também passem a figurar no escopo desse profissional.
 
Peguemos como base a carreira de um profissional da área de UX – que exige cerca de 90% de habilidades comportamentais e 10% de habilidades técnicas -, por exemplo. Responsável pela experiência e praticidade de produtos, esse colaborador necessita contar com senso de empatia e a habilidade de prestar atenção aos detalhes para conseguir atuar de forma assertiva diante das dores do usuário. Por mais que o conhecimento técnico seja fundamental para o desenvolvimento do trabalho, somente com esses atributos atuando de forma apurada que será possível cumprir a missão de contribuir para uma melhor rotina desse consumidor alvo. 
 
Já o Product Manager (PM) – profissional que conecta consumidores e usuários aos negócios das empresas -, atua com prioridade muito mais voltada para demandas relacionadas à questões analíticas de negócio e dados, tato para lidar com outras áreas da empresa, ou simplesmente criatividade, em detrimento de um expertise único em SQL, por exemplo. 
 
Como mais uma vertente dentro da área de tecnologia, o PM atua diretamente na área de Gestão de Produto, cargo que lidera questões como: que produtos produzir e vender, que novas funcionalidades acrescentar, quais produtos existem e devem abandonar, quanto tempo um produto necessita para penetrar o mercado, dentre outros. Esses profissionais adquirem conhecimentos em análise de dados, pesquisa, entrevistas, marketing, vendas e liderança, afinal, é ele que atua como uma verdadeira cola entre UX Designers e programadores, formando uma verdadeira tríade de tecnologia. Para o cargo em questão, é necessário desenvolver 80% de habilidades comportamentais e 20% de habilidade técnica, por exemplo.
 
E falando ainda de mercado, hoje é possível observar com clareza a importância do desenvolvimento dessas habilidades. Não à toa, estudo do LinkedIn, produzido entre 2021 e 2022, aponta que o número de profissionais de Liderança & Desenvolvimento que expressam preocupação pelo fato de seus colaboradores não apresentarem as skills necessárias para a estratégia de negócio cresceu 9 pontos percentuais, passando de 40% para 49%. 
Mais do que isso, o levantamento “Perspectivas do mercado de trabalho para graduados”, feito pela ZipRecruiter, destacou ainda que, para 93% das empresas, as habilidades sociais atualmente são vistas como tão importantes quanto a formação técnica, as chamadas hard skills, no momento da contratação de um funcionário.
 
Um dos movimentos que se encaixa nessas descrições é o alto volume de profissionais que acabam se inserindo no mercado tech a partir de ramos caracterizados por serem de “humanas”, como marketing, jornalismo, publicidade, justamente por conta das capacidades de relacionamento e adaptação atreladas a essas funções. 

Diante desse contexto, é possível dizer que o mercado de tecnologia não aceita mais um profissional fundamentado apenas nos chamados conhecimentos técnicos. A exigência hoje passa por um trabalhador multifacetado, que esteja ciente da importância de conciliar o uso das hard skills com as habilidades sociais, a fim de garantir um trabalho interativo, analítico e humano. 
 
(*) É CEO e Co-fundador da edtech PM3, referência na educação de produtos digitais no Brasil. Ao longo de sua trajetória profissional liderou projetos para empresas como Nubank, Viva Real, Easy Taxi, além da australiana Seek. Formado em Ciência da Computação e com conhecimentos adquiridos nas Universidade de Western Michigan e Harvard, o executivo também atua como investidor anjo com a missão de impulsionar o empreendedorismo atual e da próxima geração.