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Nature e os destaques da ciência em 2023

em Tecnologia
quinta-feira, 04 de janeiro de 2024

Publicada desde 1869, a Nature é provavelmente a mais conhecida e relevante revista científica de todo o mundo.

Vivaldo José Breternitz (*)

Como faz em todos os meses de dezembro, a revista apresentou aquelas que considera as dez personagens mais relevantes para a ciência no ano que se encerra.

Em 2023, pela primeira vez, incluiu em sua lista um ente que não é humano: o ChatGPT, um chatbot online de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, lançado em novembro de 2022 e que é capaz de responder a perguntas e manter conversas de maneira mais ou menos inteligentes, que intensificou o debate sobre os limites da inteligência artificial, a natureza da inteligência humana e a regulamentação dessas novas tecnologias.

Ao lado do potencial dessa tecnologia para a gestão do conhecimento e até mesmo a geração de novo saber, os editores da Nature, ao comentar a escolha que fizeram, destacam a necessidade de transparência no uso de uma ferramenta tão poderosa.

Eles alertam que o tamanho e a complexidade dos modelos de linguagem de grande porte, como aqueles em que o ChatGPT e similares se baseiam, os tornam, em última análise, caixas pretas, o que impede que se saiba até onde esses modelos irão e quais serão os limites que lhes serão impostos pela capacidade computacional ou pelas bases de dados disponíveis, o que desperta grandes preocupações, pois ao que parece, a revolução da trazida por esses modelos é inevitável.

Mesmo reconhecendo o ChatGPT como protagonista, a Nature também incluiu entre os personagens relevantes de 2023 um de seus criadores. Ilya Sutskever, cientista-chefe e co-fundador da OpenAI, e uma das mentes na vanguarda da área.

Sutskever considera a OpenAI, bancada por bilhões de dólares pela Microsoft, como capaz de desenvolver uma inteligência artificial geral, capaz de superar a dos humanos, algo que julga perigoso demais para que qualquer pessoa possa usar.
Em novembro de 2023, Sutskever envolveu-se em uma guerra interna que sacudiu a empresa que fundou; como membro do conselho de administração da OpenAI, demitiu seu CEO, Sam Altman, mas três dias depois disse estar arrependido e Altman voltou à empresa.

A novela OpenAI provavelmente ainda não está encerrada, da mesma forma que não se pode prever o futuro de ferramentas como o ChatGPT, que podem trazer muito mal ou muito bem para a sociedade.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.