Na Europa a venda de bebidas falsificadas movimenta 3 bilhões de euros anualmente.
Vivaldo José Breternitz (*)
No início deste ano membros de uma gangue foram condenados por levarem caminhões-tanque carregados com vinhos espanhóis para a França, onde seriam vendidos como vinhos franceses de alta qualidade, especialmente da região de Bordeaux. O esquema funcionou durante anos, acreditando-se que o volume falsificado tenha chegado a quase 5 milhões de garrafas.
Pesquisadores da Universidade de Genebra estão desenvolvendo ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA) para detectar essas falsificações, treinando um algoritmo para rastrear vinhos até suas origens, com base em análises químicas de rotina.
Os cientistas estão utilizando aprendizado de máquina para distinguir vinhos com base em diferenças sutis nas concentrações de dezenas de componentes, permitindo-lhes rastrear os vinhos não apenas até uma região específica de cultivo de videiras, mas até a vinícola onde o vinho foi produzido.
Para treinar o algoritmo, os cientistas recorreram à cromatografia gasosa, que foi usada para analisar vinhos produzidos ao longo de 12 anos em vinícolas da região de Bordeaux, na França.
Essa técnica é comumente utilizada em laboratórios para separar e identificar os componentes de uma mistura, só que, em vez de tentar encontrar componentes individuais que distinguem um vinho do outro, o algoritmo analisa o conjunto de componentes dos vinhos, mostrando de onde cada um deles provem.
Embora a ferramenta esteja apontando a origem dos vinhos com 99% de precisão, ainda tem dificuldade para distinguir safras, alcançando no máximo 50% de acertos.
Os resultados completos da pesquisa devem ser publicados em breve pela revista Communications Chemistry, do grupo Nature; embora a detecção de fraudes seja a aplicação mais óbvia para a ferramenta, ela também poderá vir a ser usada para descobrir como misturar vinhos para otimizar a qualidade, lembrando que a mistura de vinhos, chamada assemblage, é a etapa chave na produção de grandes Bordeaux e champanhe.
Até agora, a assemblage é feita por enólogos que são pagos regiamente – ter ferramentas como essa tornaria mais barato produzir grandes vinhos.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.