A inteligência artificial e os satélites têm sido cada vez mais utilizados para monitorar crises climáticas e ambientais. Agora, pesquisadores decidiram utilizar essas tecnologias para mapear elefantes, num esforço para proteção de populações ameaçadas.
Vivaldo José Breternitz (*)
Um estudo foi conduzido por cientistas das universidades de Bath e Oxford, ambas no Reino Unido, visando contar elefantes africanos utilizando imagens obtidas pelo satélite WorldView-3, da empresa americana Maxar Technologies.
A contagem dos animais foi feita com o uso de deep learning, uma técnica de inteligência artificial, que analisou imagens capturadas pelo satélite, permitindo que os resultados fossem obtidos em apenas algumas horas, ao invés de meses, o tempo seria gasto caso humanos contassem manualmente os animais. Para treinar os algoritmos utilizados, os pesquisadores alimentaram uma rede neural convolucional (convolutional neural network – CNN) com um conjunto de dados de mais de mil elefantes sul-africanos.
Para testar a eficiência da tecnologia, os resultados foram comparados com amostras de análises feitas por humanos, concluindo-se que a precisão da CNN em áreas heterogêneas foi de 0.78, enquanto que a detecção humana foi de 0.77. No caso das áreas homogêneas, o CNN marcou 0.73, e os humanos, 0.80. Ou seja, a precisão do sistema foi muito semelhante à capacidade humana.
Os pesquisadores explicam que existe uma série de benefícios no uso dessas tecnologias, ressaltando-se a importância dos esforços de conservação para proteger espécies ameaçadas, como é o caso dos elefantes africanos.
O método mais utilizado atualmente para realizar essas contagens usa observações a partir de aviões, o que envolve altos custos e desafios de logística, além de erros gerados por baixa visibilidade. Assim, falhas na contagem podem levar à tomada de decisões equivocadas.
Já os satélites da Maxar, conseguem coletar imagens que cobrem até cinco mil quilômetros quadrados em uma única passagem e em apenas alguns minutos. Isso elimina o risco de contagens duplicadas, além de possibilitar que novas imagens sejam coletadas em um curto intervalo de tempo.
Outra vantagem é o fato de que a técnica não requer a presença de humanos no solo. Assim, além de garantir a segurança de profissionais, os animais não são perturbados durante a coleta dos dados. Em relação à logística, também as coisas ficam mais fáceis, considerando que muitas áreas são inacessíveis ou requerem autorizações para ingresso.
Os pesquisadores já falam em usar essas tecnologias para impedir a caça ilegal. Outros grupos conservacionistas também já demonstraram interesse em utiliza-las – é mais uma aplicação de inteligência artificial em causas nobres.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.