Quando os computadores começaram a se popularizar no Brasil, na década de 1960, uma das máquinas mais comuns entre nós era o IBM 1401.
Vivaldo José Breternitz (*)
Não temos informações precisas, mas esse deve ter sido, durante algum tempo, o computador mais utilizado por aqui; nos Estados Unidos dois mil 1401 rodavam em 1961, representando 25% dos computadores instalados naquele país. Nesse ano de 1961, a IBM começou a montar os 1401 em sua fábrica de Benfica, no Rio de Janeiro; naquele ano, o Bradesco instalou uma dessas máquinas – foi uma das primeiras empresas brasileiras a usar um computador.
O 1401 foi lançado em fins de 1959 – cerca de dezesseis mil foram fabricados até 1971, quando foi substituído pela linha /360. Desde seu lançamento foi um grande sucesso: 5.200 máquinas foram encomendadas nas primeiras cinco semanas que se seguiram ao lançamento; o prazo de entrega era bastante longo. Vale registrar que o 1401 fazia tanto sucesso que o desenvolvimento do /360, que mais uma vez revolucionaria o mundo da computação, quase foi abandonado pela IBM.
Segundo a IBM, a máquina destinava-se a empresas de pequeno porte (para os padrões americanos da época), que até então utilizavam tabuladoras e outros equipamentos que processavam cartões perfurados; nas grandes corporações, era utilizado no apoio a sistemas de maior porte, os IBM da série 7000.
Naquela época, a IBM adotava a política de não vender computadores, ela os alugava; o custo do aluguel mensal da menor configuração disponível estava ao redor de US$ 2.500 (em valores da época; atualmente cerca de US$ 26 mil), incluído o software básico (sistema operacional, utilitários etc.).
As linguagens de programação mais utilizadas pelos 1401 eram o Autocoder, o FORTRAN, o COBOL e o RPG (Report Program Generator), uma linguagem que se destinava basicamente a gerar relatórios impressos. Programas escritos para o 1401 continuaram rodando nas novas linhas IBM com o auxílio de programas emuladores; só a chegada do Bug do Milênio fez com que os mesmos fossem quase todos abandonados.
No gabinete da CPU havia uma portinhola que dava acesso a oito chaves com as quais se podia alterar o conteúdo da memória, inserindo instruções no programa que estava rodando. Isso acontecia normalmente quando o programa travava; fazia-se então um dump (impressão do conteúdo) da memória, identificava-se o problema analisando o relatório impresso e localizava-se a posição para onde devia ser feito um patch para que o programa continuasse a rodar! Chamava-se isso de “fazer cócegas nos bits”.
Uma de suas grandes novidades era a impressora 1403, com capacidade de 600 linhas por minuto, uma velocidade assombrosa para a época – esse periférico era tão avançado que continuou a operar com as famílias de mainframes que sucederam o 1401, quando chegou à velocidade de 1.400 linhas por minuto; só se tornou obsoleta em meados dos anos 1970, quando chegaram ao mercado as impressoras laser.
O 1401, em função de sua relação custo/performance ser extremamente favorável à época, marcou o início do efetivo uso dos computadores pelas empresas, abrindo as portas para o cenário atual, não apenas em termos de computação, mas também de desenvolvimento econômico.
Ela foi a máquina que colocou a IBM muito à frente de seus concorrentes, gerando a expressão “IBM e os sete anões”, que eram Burroughs, CDC, GE, Honeywell, NCR, RCA e Univac. Desses, falaremos um dia.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.