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Governo chinês nega ter proibido o uso de iPhones por seus funcionários

em Tecnologia
terça-feira, 19 de setembro de 2023

Horas depois de a Apple apresentar seu iPhone 15, o governo chinês negou relatos de que havia proibido funcionários de usar smartphones da marca, porém mencionou “incidentes de segurança” recentes envolvendo esses dispositivos, disse o The Washington Post.

Vivaldo José Breternitz (*)

No entanto, essa afirmação contraria informações do Wall Street Journal, que teria ouvido pessoas familiarizadas com o assunto dizendo que a proibição está em estudo.

O governo chinês não detalhou se os «incidentes» em questão eram vulnerabilidades devidas a software desatualizado ou algo mais sério.

Mas o comentário vago gerou preocupações acerca da relação da Apple com a China, onde a maioria dos iPhones é fabricada e onde, segundo algumas estimativas, a empresa vende mais telefones do que nos Estados Unidos.

A notícia de uma possível proibição do iPhone para funcionários do governo chinês reduziu em US$ 200 bilhões o valor da Apple nas bolsas de valores.

Na realidade, estão sendo ampliadas na China as restrições sobre o uso de tecnologia estrangeira em órgãos do governo, à medida em que o Partido Comunista insta as gigantes de tecnologia chinesas a competirem com as empresas líderes, como a Apple.

Tudo isso em função do desejo de Pequim de ser autossuficiente em componentes críticos como microchips, porque vê as restrições americanas ao acesso a tecnologias sofisticadas como uma ameaça grave ao crescimento e segurança nacional da China.

Esse ambiente politicamente carregado está impactando a tecnologia ligada a produtos de consumo: há algumas semanas, enquanto a Secretária de Comércio americana, Gina Raimondo, estava visitando o país, a gigante chinesa de tecnologia Huawei lançou seu smartphone mais recente, dotado de um chip avançado fabricado na China – com o lançamento, os chineses buscaram evidenciar que as sanções americanas não haviam impedido que a empresa lançasse um dispositivo capaz de competir com os iPhones mais recentes.

Uma campanha do governo chinês questionando a segurança dos dispositivos da Apple poderia ser mais um risco para o relacionamento China/Apple, construído cuidadosamente pela empresa, ao longo de décadas.

Outro risco, o da dependência excessiva da Apple de fábricas chinesas ficou evidente nos últimos anos face aos problemas ali ocorridos durante a pandemia, ao qual se juntaram acusações de grupos de direitos humanos de que parceiros da Apple usam trabalho forçado de uigures.

A pressão sobre a Apple ocorre à medida que a China cada vez mais invoca preocupações de segurança nacional para investigar ou restringir as operações de empresas estrangeiras no país.

Já o Economic Observer, um jornal chinês, levantou outra preocupação: autoridades chinesas não conseguem desbloquear os iPhones de funcionários suspeitos de corrupção. Fontes do Beijing Discipline and Supervision Bureau, uma agência de combate à corrupção, disseram que dispõem de software capaz de desbloquear praticamente qualquer tipo de celular, exceto os iPhones, o que pode explicar as preocupações das autoridades com seu uso por funcionários do governo.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.