Durante o século XX, os campeões mundiais de xadrez tiveram o status de pop stars: eram notícia de jornal, suas esquisitices eram comentadas até por não enxadristas etc.
Vivaldo José Breternitz (*)
Lasker, Capablanca, Bobby Fischer e até mesmo Mequinho, o maior jogador brasileiro, tinham fãs ardorosos; mas Garry Kasparov, nascido na então União Soviética, é considerado por muitos o maior enxadrista de todos os tempos, tendo se tornado campeão mundial aos 22 anos em 1985 – afastou-se do xadrez profissional em 2005.
Criado pela IBM, o Deep Blue era um supercomputador que processava um software criado para jogar xadrez; era capaz de analisar aproximadamente 200 milhões alternativas de jogo por segundo.
Em fevereiro de 1996, Kasparov disputou um match contra o Deep Blue: perdeu uma partida, ganhou três e empatou duas. O computador derrotou Kasparov na primeira partida do match – foi a primeira vez que um computador venceu um campeão do mundo. Mesmo tendo vencido o match, Kasparov disse que “era o último humano campeão de xadrez”, talvez prevendo o que aconteceria no ano seguinte.
Em maio de 1997 uma versão atualizada do Deep Blue venceu Kasparov em um novo confronto: após cinco jogos o match estava empatado, porém Kasparov foi vencido na última partida – foi a primeira vez que um computador venceu um campeão mundial em um match; o documentário “Game Over: Kasparov and the Machine” narra o episódio. Especialistas afirmam que na sexta partida Kasparov adotou uma estratégia que pretendia levar o jogo e o match a um empate, mas não teve êxito.
Kasparov disse que muitos fatores pesaram contra ele, especialmente o fato de não ter tido acesso a jogos recentes do Deep Blue, enquanto o computador foi alimentado com centenas dos jogos de Kasparov – enxadristas normalmente estudam previamente as partidas de seus adversários; na base de dados acessada pelo computador havia mais de 700 mil partidas dos maiores jogadores do mundo.
A polêmica foi mais longe: Kasparov acusou a IBM de ter trapaceado, dizendo que jogadores humanos intervieram durante a segunda partida. A IBM se defendeu dizendo que os ajustes no programa e intervenções ocorriam somente entre uma partida e outra. Kasparov pediu os arquivos que poderiam comprovar suas acusações, mas a IBM se recusou a fornecê-los, embora os tenha disponibilizado na internet mais tarde.
Inconformado, Kasparov desafiou a máquina para um novo match, mas a IBM não teve interesse e aposentou o Deep Blue que vencera Kasparov, o que enxadrista disse ter sido uma forma de ocultar as evidências da alegada fraude.
Do ponto de vista tecnológico, cabe lembrar que além dos enxadristas amadores que jogam contra computadores por puro esporte (há softwares com diferentes graus de dificuldade), computadores são utilizados regularmente por profissionais para treinamento e que há inúmeras competições, a nível mundial, para softwares de xadrez. A inteligência artificial está assumindo um papel importante na área.
Quanto aos campeões mundiais, alguém sabe quem é o atual?
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].