Para os céticos (ou realistas), o bitcoin é uma ferramenta de criminosos, que agride o meio ambiente consumindo volumes monstruosos de energia em seu processo de mineração.
Vivaldo José Breternitz (*)
É também um esquema de pirâmide digitalmente glamourizado, cujo provável colapso prejudicará mais os menos capazes de arcar com perdas financeiras. As violentas quedas que as criptomoedas vêm sofrendo, reforçam essa percepção.
Para seus evangelistas, o bitcoin é uma forma de dinheiro segura e empoderadora que liberta os cidadãos do mundo dos grilhões dos bancos e governos nacionais e é também um investimento rentável, destinado a bater todos os demais.
Um desses evangelistas, o ditador de El Salvador Nayib Bukele, oficializou no ano passado a adoção do bitcoin como moeda nacional do país e ordenou a compra de milhões de dólares em bitcoins para manter no caixa do país.
Graças a essa medida, o país está indo à bancarrota, pois com a desvalorização do bitcoin, El Salvador perdeu boa parte de seus recursos financeiros e agora não consegue pagar o que tomou emprestado no mercado financeiro, quase tudo em dólares. Também não consegue novos empréstimos para manter o país funcionando; ao que parece, o caos deve se instalar por lá muito brevemente.
Para se ter uma ideia da loucura de Bukele, um ex-publicitário que usa bonés de beisebol de trás para frente e que se autodenomina o “ditador mais legal do mundo”, El Salvador revelou planos para construir uma nova cidade, Bitcoin City, que seriam financiados com títulos emitidos em bitcoins, com um monumento na forma do logo da moeda em sua praça principal e que consumiria energia geotérmica vinda de um vulcão próximo.
Segundo o ditador, a adoção do bitcoin iria “transformar El Salvador em um refúgio da liberdade, na medida em que o mundo fosse caindo na tirania”, o que não é coerente com a afirmação da Anistia Internacional de que a situação do país criou “uma tempestade perfeita de violações dos direitos humanos”.
Fatos como esses mostram como são importantes os cuidados com relação às criptomoedas e com a democracia.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de IoT