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Cuidado ao usar uma tecnologia sem conhecê-la bem

em Tecnologia
segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Falta de experiência com uma dada tecnologia pode levar a resultados imprevisíveis, às vezes trágicos.

Vivaldo José Breternitz (*)

Foi o que aconteceu quando os nazistas invadiram a então Checoslováquia, logo no início da 2ª Guerra Mundial. Seguindo seu padrão de conduta, eles saquearam tudo o que estava ao seu alcance no país invadido, inclusive carros Tatra 87, que ali eram fabricados – o marechal Rommel foi um de seus usuários. 

Os Tatra tinham linhas futuristas e podiam alcançar 160 km/hora, uma velocidade muito elevada para os carros da época. Seu motor traseiro, 2.9, refrigerado a ar, gerava 85 hp. Foi criado a partir de ideias do austríaco Paul Jaray, que projetara dirigíveis como o Graf Zeppelin.   

Mas esses carros tinham um defeito sério: sua dirigibilidade era péssima, o que não era um grave problema nas primitivas estradas da Checoslováquia, onde não se podia andar muito depressa. Já na Alemanha, onde as moderníssimas Autobahnen permitiam que a velocidade máxima fosse atingida com facilidade, era comum a perda de controle em curvas acentuadas, gerando derrapagens, capotamentos, choques com árvores etc., o que a 160 por hora e sem cintos de segurança, usualmente matava o motorista e os passageiros.

Consta que o Tatra matou sete oficiais nazistas de alta patente em apenas uma semana, logo após a invasão – mais do que os que morreram em combate; estima-se que mais cinquenta e quatro oficiais também tenham morrido em acidentes com o carro. A situação era tão séria que o carro passou a ser conhecido como “a arma secreta Checa”; logo em seguida, nazistas de alto escalão foram proibidos de usá-lo.

Nesses tempos em que vemos acontecerem coisas como inteligências artificiais adquirirem comportamentos abusivos e a ferramenta Crash Detection do iPhone 14 acionar serviços de socorro quando seus usuários estão em montanhas russas, fica a lição: antes de utilizar intensivamente uma tecnologia, é preciso conhecê-la bem.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.