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Corporações americanas preocupadas com medidas de Trump

em Tecnologia
quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Vivaldo José Breternitz (*)

Imagem: Pixabay

Grandes corporações americanas estão preocupadas com as medidas que o governo Trump anuncia que vai tomar contra empresas chinesas.
Um grupo dessas corporações manifestou formalmente suas preocupações ao governo americano, dizendo que as medidas anunciadas vão prejudicar seus negócios com a segunda maior economia do mundo, a chinesa.
Dentre essas empresas estão Ford, Disney, Intel, Goldman Sachs, Walmart, Cargill e outras – não há informações acerca de manifestações do governo sobre o assunto.
Se analisarmos a situação da Apple, que também faz parte desse grupo de empresas, poderemos ter uma ideia melhor dos prejuízos que essas empresas virão a sofrer: a Apple tem um grande número de usuários na China e praticamente todos os seus produtos são fabricados lá ou por empresas controladas por chineses. Além disso, a simples remoção do WeChat de sua AppStore tornaria praticamente inúteis os iPhones usados na China e consequentemente destruiria seus negócios no país, inclusive no que se refere a Apple Watches, iPads, AirPods, Macs, iCloud e Apple Music.
O WeChat tem uma importância na China que dificilmente pode ser avaliada por quem não vive no país: além do serviço de mensagem, similar ao Messenger e WhatsApp, é usado ali para pagamentos, acesso ao noticiário e a serviços do governo e de empresas.
A Apple terá outros problemas: seu modelo de distribuição de software, centrado em sua AppStore, tornará impossível o download do WeChat se a empresa cumprir as determinações do governo Trump. Um modelo mais aberto, similar ao adotado no ambiente Android, poderia permitir esse download sem a aprovação explicita da Apple – não seria uma solução ideal para a empresa, mas os usuários dos iPhones poderiam continuar usando o aplicativo.
Com relação à fabricação dos equipamentos, é impossível transferi-la para fora da China rapidamente. Tim Cook, hoje CEO da Apple, quando era responsável pelas operações fabris da empresa, montou, ao redor de 2005, um sistema de fabricação baseado em just-in-time, trabalhando sempre com estoques extremamente reduzidos. Isso aumentou a lucratividade, mas tornou a empresa vulnerável a situações como a trazida pela pandemia, quando fabricantes de partes precisaram parar a produção e, entre outros efeitos, gerou atrasos no lançamento dos novos iPhone 12.
É bem possível que as medidas anunciadas pelo governo Trump sejam eleitoreiras, querendo apenas mostrar aos americanos sua preocupação com a segurança do país, que tem eleições presidenciais marcadas para novembro.
Certamente as empresas esperam que essa seja a realidade, e que passadas as eleições a situação se normalize.

(*) É Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.