O encerramento da COP-27 parece ter marcado o fim do sonho de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C em relação aos níveis da era pré-industrial.
Vivaldo José Breternitz (*)
Se essa meta não for atingida, os impactos sobre o clima serão desastrosos. Para que ela seja atingida, as emissões de carbono devem ser reduzidas em 50% até 2030, mas o que vem se observando são níveis recordes de lançamento de gases poluentes na atmosfera.
Isso significa que devemos desistir? Não, pois ainda haverá vida além dos 1,5°C, apesar de mais difícil para muitos. O que é preciso é deixar de lado discursos falsamente emocionados de alguns e atacar a causa raiz do problema: o lobby da indústria dos combustíveis fósseis.
Os alertas emitidos pela comunidade científica antes da COP-27 não poderiam ter sido mais claros: estamos à beira de um colapso climático irreversível. Durante a reunião, o que se viu foram os produtores de petróleo irredutíveis em suas posturas de defesa de seus produtos, restando aos demais paísesm lutar com unhas e dentes apenas para preservar o status quo, já inadequado.
Apesar dos esforços de muitos países, o texto da decisão final não mencionou a eliminação, ainda que gradual, dos combustíveis fósseis.
Quase no final do evento, um delegado da Arábia Saudita disse: “Não devemos visar as fontes de energia; devemos nos concentrar nas emissões. Não devemos mencionar os combustíveis fósseis”. É um exemplo do egoísmo dos grandes exportadores desses combustíveis, alguns dos quais, como a Noruega, cinicamente posam como defensores do meio ambiente, inclusive junto ao Brasil.
É extraordinário que em 30 anos de negociações climáticas da ONU, a eliminação da causa primária do aquecimento global nunca tenha sido mencionada nas decisões.
A meta de 1,5ºC pode ainda não ser fisicamente impossível de alcançar, mas a COP-27 mostrou que isso é politicamente impossível, e dado que próxima COP será realizada nos Emirados Árabes Unidos, é difícil acreditar que esse tema será abordado ali de forma séria.
Lembremo-nos: continua sendo imperativo abandonar o carvão, o petróleo e o gás o mais rapidamente possível.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.