A FCC – Federal Communications Commission, órgão do governo americano análogo à ANATEL, propôs a aplicação de uma multa de US$ 6 milhões a um golpista acusado de usar tecnologia de clonagem de voz para se passar pelo Presidente Biden em uma série de chamadas telefônicas disparadas automaticamente às vésperas de uma eleição no estado de New Hampshire.
Vivaldo José Breternitz (*)
O problema é mais relacionado às chamadas do que à inteligência artificial, mas parece claro que a FCC está usando o caso para dar um aviso àqueles que pretendem usar a clonagem de voz de forma ilegal.
Os fatos aconteceram em janeiro, quando muitos eleitores em New Hampshire receberam uma chamada que supostamente era uma mensagem do presidente dizendo-lhes para não votar na próxima eleição primária. A mensagem era falsa, usando uma clonagem da voz de Biden produzida com o uso de uma tecnologia que se tornou amplamente disponível nos últimos anos.
Embora criar uma voz falsa seja possível há muito tempo, as plataformas de inteligência artificial generativa tornaram isso trivial: dezenas de serviços oferecem vozes clonadas com poucas restrições ou supervisão. Qualquer pessoa pode gerar um áudio desse tipo com muita facilidade, partindo de uma gravação da voz da pessoa que se pretende clonar, com um ou dois minutos de duração.
O que não se pode fazer, como a FCC e outras agências já deixaram claro, é usar um clone de voz para influenciar eleitores, através de chamadas automáticas, que já eram ilegais.
Loyaan Egal, executivo da FCC, disse em comunicado à imprensa que “agiremos rápida e decisivamente para garantir que atores mal-intencionados não possam usar as redes de telecomunicações dos Estados Unidos para facilitar o uso indevido da tecnologia de inteligência artificial generativa para interferir em eleições, fraudar consumidores ou tornar públicos dados sensíveis”.
Steve Kramer, que se apresenta como “consultor político” foi o principal autor da fraude, contando com a ajuda de empresas um tanto quanto obscuras, dentre elas a Life Corporation, que já fora acusada de gerar chamadas automáticas ilegais.
Ainda não há processos criminais contra Kramer ou seus colaboradores, embora esses possam vir a ser iniciados em função das respostas que Kramer vier a dar às acusações da FCC.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.
