Ao longo da nossa história, passamos por três revoluções industriais que trouxeram a produção em massa, as linhas de montagem, a eletricidade e a tecnologia da informação. Agora, estamos vivenciando a quarta revolução industrial, que terá um impacto mais profundo e exponencial, pois se caracteriza por um conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital e biológico.
Camilo Ramos (*)
A indústria 4.0 tem em sua base nove pilares do avanço tecnológico, sendo eles: Big Data e Analytics, robôs autônomos, simulação, realidade aumentada, integração de sistemas, manufatura aditiva, cyber segurança, nuvem e internet industrial. Mas não conseguiremos erguer nenhum dos pilares da edificação da indústria 4.0 sem os recursos humanos.
No convívio com outros empresários, infelizmente, percebo que o termo indústria 4.0 ainda não é nem conhecido e tampouco existe um movimento para capacitação de suas equipes para a revolução que vivemos. Para termos uma ideia, segundo pesquisa divulgada no último Fórum Econômico Mundial, atualmente, o Brasil ocupa apenas a 69ª colocação no Índice Global de Inovação. Essa mensuração busca avaliar critérios de performance de diferentes países no quesito inovação. O índice leva em conta itens como crescimento da produtividade, investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), educação, exportações de produtos de alta tecnologia, dentre outros tópicos.
O Brasil tem caído a cada ano no ranking de eficiência da inovação e para reverter essa situação será fundamental a capacitação das pessoas. Esse assunto é muito mais amplo do que parece e não existe uma fórmula padrão para as corporações, o que deu certo em uma empresa poderá não dar certo em outra. É um processo que de fato deve ser construído de acordo com a necessidade de cada organização e, por esse motivo, temos uma dificuldade de encontrar disponível no mercado um treinamento eficiente para nossos colaboradores.
Diante dessa dificuldade criamos para a Piccin Tecnologia Agrícola, empresa especialista na fabricação de implementos utilizados no preparo de solo, um modelo próprio de treinamento de liderança 4.0. Trabalhamos em uma capacitação para nossa equipe de colaboradores e a meta é apresentar, contextualizar e treinar a equipe de líderes e, posteriormente, disseminar o conhecimento a todas áreas e processos da empresa.
Em resumo, o nosso treinamento tem como objetivo fazer com que o líder compreenda quais os princípios de desenvolvimento de uma boa liderança que nasce fora da empresa, explique a sua equipe quais são esses pilares e interprete como eles poder ser aplicados no dia-a-dia. Além disso, focamos na análise, o que inclui identificar quem necessita de suporte, criar condições para que esse conhecimento seja aplicado e, então, avaliar se os colaboradores estão respondendo aos conhecimentos transmitidos através da produtividade de cada indivíduo.
Primeiramente, temos uma preocupação em fazer com que nossos líderes compreendam a revolução que vivemos e que atinge inclusive temas como saúde, família, finanças pessoais, metas pessoais. Depois, pretendemos contextualizar e dar ferramentas para que o líder entenda no âmbito profissional a revolução que vivemos e como deve reformular seu modelo de gestão. Protagonismo, criatividade, capacidade de inovação, ousadia e capacidade de inspirar são características que enxergaremos em nossos líderes muito em breve!
Participamos recentemente de um workshop em São Carlos/SP com o tema Indústria 4.0 organizado pelas parcerias entre Onovolab, USP, UFSCAR, além de instituições internacionais pioneiras no assunto, como TU Berlin e Fraunhofer IPK. Nesse evento, foi realizado um game que simulava a planta de uma indústria 4.0 que tinha objetivos a serem atingidos, regras, adversidades etc., simulando muito bem a realidade de uma indústria. Dentre todas as empresas participantes, inclusive multinacionais que já possuem células 4.0, fomos os vencedores.
Em meu ponto de vista, o principal motivo para a vitória foi o alto investimento em pessoas que realizamos em nossa simulação. Investimos muito mais em pessoas do que em máquinas e tecnologia e fomos campeões.
Para empresas como a Piccin, afirmo que não existe um caminho único a ser seguido, não existe uma metodologia que se praticada fará a indústria 4.0 acontecer, mas, se optarem por também começar investindo na capacitação, compartilho nosso planejamento para que sirva de insight:
1 – Medir engajamento (assim como precisamos ouvir nossos clientes, precisamos ouvir também nossos colaboradores e entender em quais pontos a empresa pode e deve agir para melhorar o grau de satisfação da equipe);
2 – Entender e depois contextualizar o que é essa revolução que vivemos;
3 – Planejar e incorporar na estratégia os primeiros passos para a indústria 4.0;
4 – Preparar treinamentos conforme a realidade de cada negócio;
5 – Criar indicadores que monitorem as competências treinadas nos líderes;
6 – Criar indicadores que monitorem os ganhos de produtividade (principal motivo da mudança para indústria 4.0).
É muito importante que todos entendam que a indústria 4.0 não é uma opção e que o caminho para obtenção do título indústria 4.0 é longo, árduo, desafiador e trará resultados ao negócio sem precedentes.
(*) É consultor e diretor de operações na Piccin.