329 views 8 mins

Depois de surpreender em 2022, crescimento do mercado de crédito terá ritmo menor

em Sem categoria
domingo, 08 de janeiro de 2023

Seguindo tendência já verificada ao longo do ano, as projeções para o mercado de crédito no Brasil apontam para um desempenho robusto, tanto em 2022 quanto em 2023.

Após o crescimento atípico registrado em 2020 e 2021, a carteira total de crédito manteve-se em expansão forte em 2022 e deverá seguir acima do crescimento observado no período pré-pandemia (6,5% em 2019) em 2023, elevando-se em 8,2%, revela a Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas.

As projeções feitas pelos bancos sobre o mercado de crédito em 2023 apontam um leve recuo ante a pesquisa anterior, de novembro, que previa alta de 8,4%. Essa queda deve-se à menor expectativa de crescimento econômico e taxas de juros mais altas.

Já para o ano de 2022, a pesquisa captou nova melhora na projeção de crescimento da carteira total, elevando de 14,1% (novembro) para 14,8%. Essa melhora decorre principalmente das surpresas positivas com os números mais recentes da economia, especialmente nas linhas de crédito com recursos direcionados, como os programas públicos.

A Pesquisa Febraban, realizada com 20 bancos entre 13 e 20 de dezembro, é feita a cada 45 dias, logo após a divulgação da Ata da reunião do Copom, e reúne as percepções das instituições financeiras sobre o documento do Banco Central e as projeções para o desempenho das carteiras de crédito no ano corrente e no próximo.

A preocupação dos analistas com os rumos da política fiscal se espelhou no adiamento do período esperado para o início do processo de flexibilização da política monetária (queda da taxa básica de juros) e na revisão da tendência de crescimento da economia.

  • Fiscal e Selic – A pesquisa captou que a grande maioria (75%) dos participantes espera que o início da flexibilização ocorra apenas a partir do 3º trimestre de 2023, nas reuniões de agosto ou setembro. Na pesquisa anterior, a maioria dos analistas (60%) apontava que isso ocorreria no 2º trimestre. Ainda 20% dos participantes indicam que a Selic deve começar a cair só no 4T23, algo não apontado na pesquisa anterior.

A pesquisa é um alerta sobre a necessidade de rigor na política fiscal e no controle dos gastos públicos”, avalia Isaac Sidney, presidente da Febraban, que completa: “Com o cenário externo ruim com inflação elevada, juros altos e atividade em desaceleração e o quadro doméstico igualmente desafiador, temos de buscar uma âncora fiscal forte e crível e firme controle da inflação. Não enxergo outra direção senão perseverar nesses fundamentos econômicos para arrumar a casa”.

“Para a maior parte dos entrevistados, a tramitação da PEC da Transição resultou em alteração tanto do início da flexibilização monetária quanto em uma elevação da taxa terminal da Selic em 2023. Apenas 25% afirmaram que não alteraram suas projeções para a taxa Selic”, aponta Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban. Esse resultado reforça a importância de que o novo governo defina o mais rapidamente possível a nova âncora fiscal da economia, complementa.

Pela pesquisa, a mediana das projeções passou a projetar que a taxa Selic fique estável em 13,75% ao ano até junho de 2023 e só a partir de agosto seria iniciada a flexibilização da política monetária. Os participantes também ficaram divididos se o corte inicial seria de 0,25 pontos percentuais ou 0,50 pp.

  • Câmbio – Para o câmbio, houve também uma revisão negativa das expectativas. Os entrevistados avaliam que o valor da moeda americana se mantenha na faixa de
    R$ 5,30 no 1º semestre de 2023 (ante expectativa de valor entre R$ 5,20 a 5,25 na pesquisa de novembro).
  • PIB – A pesquisa captou que é maior o contingente de bancos que espera um crescimento menor em 2023, em relação à pesquisa anterior. Antes, 70% dos participantes esperavam um aumento do PIB entre 0,5% e 1,0% no ano e agora esse contingente caiu para 65% dos entrevistados. O percentual daqueles que acreditam que a economia brasileira não deve crescer mais de 0,5% passou de 25% para 30%.
  • Crédito – Para 2023, o ligeiro recuo do aumento da carteira de crédito (de 8,4% para 8,2%) é resultado da expectativa de menor crescimento da carteira com recursos livres (de 10,0% para 8,6%), enquanto a expectativa para a carteira com recursos direcionados subiu (de 6,1% para 7,7%).

Para 2022, a elevação da projeção da carteira total deve-se à expansão esperada para a carteira com recursos direcionados, cuja expectativa subiu de 10,2% (novembro) para 13,3%. A projeção para a carteira pessoa física direcionada passou de 13,1% para 16,7%, diante do forte desempenho do crédito rural. Já a expectativa de alta da carteira pessoa jurídica subiu de 5,3% para 7,3%, diante da nova rodada dos programas públicos de crédito (Pronampe e PEAC-FGI), que seguem demonstrando elevada demanda.

A projeção para a carteira com recursos livres caiu, passando de uma alta de 17,3% para 16,3%. A piora foi puxada pela carteira PJ (de 14,3% para 12,9%), que tem mostrado menor dinamismo recentemente, provavelmente, por conta da maior oferta de crédito direcionado e sinais de desaceleração da atividade.

“Enquanto isso, a projeção para a expansão da carteira pessoa física livre subiu de 18,2% para 19,0%, refletindo o forte desempenho das linhas atreladas ao consumo, como o cartão de crédito e crédito pessoal”, explica Rubens Sardenberg. Os números do ano serão divulgados pelo Banco Central no final de janeiro.

  • Inadimplência – A pesquisa também mostra piora das expectativas para a inadimplência da carteira livre. Para 2022, a projeção subiu de 4,3% (em novembro) para 4,4%, enquanto para 2023 avançou de 4,4% para 4,7%. Em outubro, a inadimplência desta carteira estava em 4,2%.
  • Inflação – Também foi observada uma piora das projeções para a inflação. Agora, 70% dos entrevistados acreditam como improvável o cumprimento da meta de inflação em 2023, ante 60% em novembro. O restante (30%) acredita que o IPCA ainda deve ficar dentro do intervalo de tolerância, cujo centro é de 3,25%, podendo variar entre 1,75% e 4,75%.
  • Mercado americano – Quanto ao aperto monetário nos Estados Unidos, os participantes ficaram relativamente divididos sobre o patamar final dos juros. Para 55%, o Federal Reserve (BC norte-americano) terá que ser um pouco mais agressivo e levar os Fed Funds até 5,5% aa. O restante (45%) não vê necessidade de os juros ultrapassarem os 5,0% aa dada a recente desaceleração dos preços e da atividade. – Fonte: (www.febraban.org.br).