SEMÁFORO S.A. – Empresa boa é a que se adapta

em #tenhacicatrizes, Empreendedores Compulsivos
quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

MAIS UMA LIÇÃO DO MERCADO INFORMAL: EMPRESA BOA É A QUE SE ADAPTA. SEMPRE.

Observador curioso, seja como professor, empreendedor ou simplesmente motorista atento, tenho sempre uma nova surpresa nos semáforos de São Paulo.

Tanto que já cheguei a escrever alguns artigos sobre este tema tão fascinante, que é comportamento empreendedor do brasileiro.

Num deles, chamava a atenção do leitor sobre a agilidade e eficiência dos ambulantes, empreendedores que vendem de tudo em trinta segundos e são ágeis em responder às demandas dos seus prospects e consumidores.

No início da década de 1990, os semáforos eram povoados de pedintes, que com expressão triste, tentavam nos convencer de suas mazelas por 30 segundos e nos tomar alguns trocados. Lembra?

Logo depois, essa abordagem migrou para a solidariedade. Fazer parte, ajudar um pouco, estar com a consciência tranqüila. Então, em cada esquina passou a ostentar uma faixa, pedindo para completar o dinheiro do “tratamento do Moisés” ou “ajudar a Júlia a comprar a cadeira de rodas”.

Veio a violência no trânsito e os vidros das janelas se fecharam. E então o mercado deu uma virada. Passou a pedir menos e a oferecer mais. E veio a brilhante ideia de colocar as balas num saquinho, com uma mensagem e o preço. Oferta de oportunidade, conveniência e de massa. Em vez de passar 30 segundos tentando convencer um único motorista, conseguiam pendurar saquinhos nos retrovisores de até 20 carros. E quem quisesse, bastava abrir o vidro. Genial! Taylor, Ford e Fayol, pensadores do trabalho e do processo produtivo, ficariam orgulhosos!

Depois, o mercado migrou de conveniência para entretenimento. Surgiram malabaristas e ilusionistas: bolas, lenços, varetas e até malabares com fogo! Cirque du Soleil na sua esquina. E bem mais barato.

São focados no ambiente: Choveu? Não sei de onde, mas logo surgem os guarda-chuvas e capas! Esquentou, lá vem a água geladinha!

Também não podemos deixar de destacar o cuidado com o calendário: carnaval, dia das mães, namorados, dia das crianças, Copa do Mundo ou Natal. Sempre tem algum produto alusivo à data e isso só funciona com um rigoroso calendário antecipado de compras, uma perfeita sintonia com as tendências do mercado. 

Estamos em plena copa do mundo. Quem nesta semana não recebeu oferta de vuvuzela, bandeira, camisa, cavalinho do Fantástico, bandana?

Empreendedorismo de oportunidade e execução impecável. Somos obrigados a admitir que essas corporações das esquinas possuem um elevado senso de oportunidade, e um apurado senso de conveniência. Rápidos e eficazes como poucas empresas são capazes de se movimentar.

Não quero entrar no mérito da legalidade, do mercado informal, do peso social ou outro juízo de valor. Meu objetivo é apresentar como o mercado muda para nos atender e como os empreendedores possuem uma sensibilidade maior para as oportunidades.

Pois quando achávamos que não poderiam avançar em mais nada, fomos novamente surpreendidos com os ambulantes aceitando cartão, andavam com a maquininha do cartão pronta para receber dinheiro de plástico! E hoje aceitam PIX! Fala sério! QR Code plastificado, pendurado no pescoço.

Compartilhando a minha visão sobre o mercado de meios de pagamento, este fato é reflexo de três grandes movimentos: primeiro, a presença maciça da tecnologia em nossas vidas. Hoje tudo é digital, integrado, portátil e interativo. Seu smartphone faz quase tudo e os terminais de banco ou totens de autoatendimento nos ajudam a ganhar tempo, a fazer mais coisas. Outro movimento é o crescimento agressivo das empresas detentoras da rede de captura, cujo setor, após a desregulamentação e fim da exclusividade das bandeiras, passou de duopólio para um ambiente extremamente competitivo, com muitos players e agressividade comercial. Por fim, e não menos importante, o crescimento da bancarização da população por meio das fintechs, trazendo um serviços bancários mais simples e sem custo fixo recorrente de manutenção. Mais pessoas, com mais cartões e mais celulares no bolso! 

O mercado evoluiu absurdamente durante a pandemia e a convergência da experiência presencial com a agilidade e conveniência do digital constroem o pano de fundo do ambiente de negócios, sejam eles formais ou informais.

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Alessandro Saade – Fundador dos Empreendedores Compulsivos, é também executivo, autor, professor, palestrante e mentor.  Possui mais de 30 anos de experiência atuando com grandes empresas e startups brasileiras, tornando-se referência no universo do empreendedorismo no Brasil. Formado em Administração pela UVV-ES, com MBA em Marketing pela ESPM e mestrado em Comunicação e Mercados pela Cásper Líbero, especializou-se em Empreendedorismo pela Babson College e em Inovação por Berkeley. Atualmente é Superintendente Executivo do ESPRO, instituição sem fins lucrativos que há 40 anos oferece aos jovens brasileiros a formação para inserção no Mundo do Trabalho.