Renato Martinelli (*)
Por conta da pandemia e seus impactos na vida e no trabalho, aumentou o debate sobre os cuidados da saúde mental para os colaboradores entre 2020 e 2021. Cursos sobre Inteligência Emocional estão mais disponíveis, o assunto está sendo mais tratado nas esferas corporativas e teve até empresa que passou a ter diretoria de Saúde Mental. Será que isso é só uma onda, pelo momento em que vivemos, ou o tema veio para ficar?
Para entender sobre o assunto, vamos mergulhar em dados. A inteligência emocional é a habilidade mais difícil de ser encontrada nos profissionais de mercado. Segundo pesquisa da Michael Page realizada no começo de 2021, mais da metade das empresas (57%) encontram dificuldades em ter profissionais em seu negócio com essa soft skill, seguida de outras competências humanas desejadas pelo mercado, como comunicação assertiva (42%), resolução de conflitos (39%) e liderança (33%). Ainda segundo o estudo, 42% afirmam que inteligência emocional é a habilidade mais desejada pelas lideranças e organizações. Em terra de ansiosos e estressados, quem tem equilíbrio emocional é rei.
Em outra análise, é possível perceber que o tema afeta não só colaboradores, mas também líderes e empreendedores. A partir da pesquisa feita pela Universidade Federal de Minas Gerais e a empresa Troposlab, especializada em inovação, também no 1º trimestre de 2021, 1 a cada 4 empreendedores estão com muitas dificuldades para lidar com o cenário de mercado afetado pela pandemia e encontram muitos desafios em sua saúde mental. Em resumo, está “puxado” para muita gente e precisamos desenvolver o equilíbrio emocional para lidar com o presente e com o futuro.
Devemos compreender que somos seres humanos racionais e emocionais. Então, a inteligência emocional não está relacionada apenas à emoção. O senso comum aborda emoção e sentimento de forma semelhante, mas para entendermos como devemos trabalhar nossa mente para alcançar o equilíbrio emocional, é fundamental compreender esses conceitos.
Uma emoção é um conjunto de respostas químicas e neurais baseadas nas memórias emocionais e surgem quando o cérebro recebe um estímulo externo, ou seja, é uma resposta do nosso corpo ao que vivemos no mundo. Nosso corpo reage “instintivamente” a algo que está ocorrendo conosco.
O sentimento, por sua vez, é uma resposta à emoção e diz respeito a como nos sentimos diante dela. Sabe aquele frio na barriga? Aquela sensação de perda de forças? Quando as pernas ficam trêmulas? Ou quando você não consegue sentir fome? Então, esses são os sentimentos, isto é, a forma como percebemos e “sentimos” as emoções.
Emoções como raiva e tristeza em vários momentos podem ter afetado a sua saúde mental e a qualidade das suas decisões. E sentimentos como ansiedade e estresse se tornam obstáculos no caminho da condução das atividades no trabalho, na liderança do time, na tomada de decisões que acontece diariamente.
As emoções e os sentimentos são fatores que interferem constantemente em nossas vidas, no entanto, não podemos e não devemos ficar reféns deles. A grande “sacada” da inteligência emocional é que devemos aprender a percebê-los, interpretá-los e lidar com esses fatores.
Dessa forma, é fundamental considerar de que há uma integração entre o sentir, o pensar, e o agir. A falta de equilíbrio emocional nos leva a reagir de forma imediata, por instinto, sem pensar, por conta dos sentimentos que nos afetam de forma negativa. Portanto, um maior equilíbrio emocional demanda um pensar antes de agir. Por isso, compartilho algumas orientações que podem ajudar:
- evite tomar decisões de cabeça quente
- analise fatos e dados para decidir, com base no cenário realista
- fique alerta sobre sua ansiedade e estresse, e busque maneiras saudáveis de aliviar a pressão e a autocobrança
- evite sofrer por antecedência, pense a respeito das ações que você pode fazer
- aumente sua atenção plena e concentre-se em momentos de decisões
- preste atenção na sua respiração
- desenvolva hábitos saudáveis – cuide do seu corpo com exercícios físicos e alimentação balanceada
- perceba como algumas situações são gatilhos emocionais que te desequilibram e reflita sobre como agir nesses casos
Ter equilíbrio emocional é assumir as rédeas do nosso funcionamento mental, orientando nossa ação a partir de um pensamento, elaborado a partir do sentimento gerado pela emoção. Colocar o equilíbrio emocional em prática não é uma ação fácil, mas é necessária – ainda mais em tempos de pandemia – e que pode ser desenvolvido por meio de atitudes diárias e persistentes.
Não podemos evitar as emoções, mas podemos sim cuidar da maneira como agimos, e de que forma cada ação pode potencializar os resultados do seu trabalho, da gestão do seu negócio ou da sua liderança, e desenvolver relacionamentos profissionais sólidos com pares, superiores e integrantes do seu time. Que o equilíbrio emocional esteja com você!
(*) É membro dos Empreendedores Compulsivos, Trainer de Comunicação, Propósito e Performance, e tem como foco ajudar pessoas a desenvolverem competências de comunicação para potencializar engajamento e resultados com equipes e clientes. Possui mais de 20 anos de carreira, agrega experiências e conhecimentos em empresas nos setores de Agronegócio, Automobilístico, Alimentos e Bebidas, Comércio, Construção, Farmacêutico e Químico, Financeiro e Seguros, Papel e Celulose, TI e Telecom, Varejo. É especialista em temas relacionados à Comunicação, Liderança, Gestão de Equipes de Alto Desempenho e Gestão de Conflitos, Vendas, Negociação e Articulação de Soluções.