O tema felicidade já se tornou um caso de saúde pública. A Organização Mundial de Saúde em seu relatório semestral de 2011/1 publicou o resultado de uma pesquisa de 12 anos a respeito deste assunto. A questão que motivou a pesquisa era saber se a saúde tinha impacto sobre a felicidade das pessoas
Concluiu-se que não. Quando estamos saudáveis não percebemos isso como um bem ou uma vantagem, apenas damos como certo o fato de ter saúde. Porém, quando adoecemos isso aumenta nosso nível de infelicidade, com variações dependendo da complexidade ou da gravidade da doença. Assim, notamos o desprazer da doença, mas não percebemos a grande graça da saúde. Algo para prestarmos mais atenção.
Contudo, a pesquisa não limitou-se ao aspecto da saúde, mas aprofundou o tema buscando o entendimento do que realmente nos traz o sentimento de felicidade. Entre muitas variáveis, chegou-se a três aspectos que fazem a base de nossa felicidade:
Transcendência
A crença em algo superior, divino, sagrado, a fé em Deus como criador, a convicção de uma realidade transcendente, segundo a pesquisa este é um elemento de alto impacto na criação de condições para lidarmos com as adversidades e vivermos uma vida em maior equilíbrio, com um senso de felicidade.
Quando não conseguimos conceber que há um plano maior para todas as coisas que ocorrem na vida, a sensação de injustiça, desperdício, crueldade e impossibilidade se tornam maiores e tomam conta da consciência. Somente com uma visão ou percepção do transcendente, daquilo que não é palpável, mas que rege todos os sistemas de forma ordenada – mesmo quando não somos capazes de perceber o processo todo – é que faz com que nos sintamos num estado de harmonia, onde tudo tem uma razão e serve a um propósito superior.
O transcendente tira o peso das dificuldades, tornando-as momentâneas, transitórias e superáveis. A fé que algo bom está contido em todas as experiências e que tudo que nos ocorre está a serviço do melhor é a base de onde emerge nossa capacidade de lidar de forma positiva mesmo com o mais desafiador dos eventos.
Dulce Magalhães
Ph. D. em filosofia pela Columbia University – www.facebook.com/DulceMagalhaes.palestrante
Conhecimento
Outro aspecto apontado pela pesquisa é que nos dá felicidade saber sobre as coisas, conhecer a realidade, estudar sobre o que nos interessa. Esse saber foi apresentado em duas dimensões, o conhecimento científico, fruto da razão, ou seja, tudo aquilo que aprendemos a partir do estudo, da pesquisa, da aplicação ou como discípulos; e o conhecimento tácito, fruto da sabedoria, que é aquele saber que vem da intuição, da prática, do bom senso, da herança, dos valores e da cultura, e nos permite tomar decisões de forma mais tranquila e convicta.
Esse senso de conhecer, de dominar o fazer, o decidir, o realizar e o relacionar traz um senso de felicidade porque preenche o desejo de pertencer, de ser reconhecido, traz a noção do valor pessoal e tira a angústia e o estresse do dia a dia. Quanto mais conhecemos sobre a realidade que experimentamos, mais confortáveis nos sentimos com ela e, assim, nossa relação com a vida torna-se mais feliz.
A abertura para novos conhecimentos e a aplicação constante daquilo que passamos a saber aumenta a autoestima, expande as fronteiras das possibilidades e abre novas oportunidades para o progresso pessoal. Isto nos permite experimentar um senso de realização e prosperidade que nos coloca nesse ambiente fluido e agradável da felicidade.
Prazer
O terceiro aspecto apontado pela pesquisa traz o “gostar de” algo ou alguém como um item importante na construção de nossa felicidade. Ter prazer com o que se faz, com quem se vive, com as experiências que se tem e com os resultados que se alcança. Esse prazer é medido pela nosso nível interno de expectativas e de como elas são correspondidas.
Quanto mais somos capazes de aceitar as coisas e as pessoas pelo que são e da forma como se apresentam, mais facilmente gostamos do que estamos experimentando e isso nos dá esse senso de felicidade, de que tudo está certo, adequado, bom, uma visão de que a vida é mesmo uma benção.
Colocar e encontrar prazer em quem se é, no que se faz e com quem se convive permite a experiência de uma sensação de bem aventurança, de alegria, um verdadeiro “estado de graça”, que só pode ser desfrutado num campo prazeroso de vida.
Investir nesses três aspectos, ampliando nossa percepção do transcendente, aumentado nosso saber sobre a realidade e apreciando com mais abertura tudo que nos rodeia, traz como resultado um maior grau de felicidade. Esta aí um investimento muito interessante e seria recomendável fazer um fundo para manter o investimento contínuo de forma a permanecer por maior tempo e em maior grau num estado de felicidade. Afinal, que outro resultado pode ser mais interessante? Reflita sobre isto. Suerte!
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Rebeca Toyama
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