Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
O que temos ensinado aos jovens que ingressam nas faculdades de economia?
A questão não está no sistema, mas em quem o criou, ou seja, os próprios seres humanos que esqueceram a espiritualidade e seguiram na sintonização puramente materialista e deu nisso, a precarização geral da vida. No afã de minimizar os custos e manter os ganhos, as indústrias foram para a Ásia, mas dessa forma foram subtraídos empregos e renda. Em seu imediatismo, o ser humano destrói as condições de subsistência e também sua morada temporária.
Os ares estão mais leves, a quarentena está mostrando quanta displicência há no modo de vida frenético de produzir coisas úteis e muitas bugigangas que servem para nada. Pessoas indo e vindo desordenadamente, todos no mesmo horário lotando trens, ônibus, avenidas. O olho gordo do ganho foi o biombo que escondeu toda a insensatez e que agora foi lançado por terra pela epidemia, convidando ao bom senso e à busca do sentido da vida.
Estamos sob a tempestade bem montada. Aviões estão no chão. Ações sobem puxadas pelos ventos, mas descem quando o vento diminui. Colocou-se muita dependência na oficina chinesa, mas quem poderia pensar que algum dia ela pudesse dar uma parada? Bancos Centrais cortam os juros. Aumentam a liquidez. Recompram papéis. Evitam o caos financeiro. A epidemia global do covid-19 ocasionou uma parada geral. Os ativos se depreciam, o PIB permanece estagnado com possibilidade de queda. Faltam empregos. O coronavírus está impactando todas as atividades. O dinheiro deixa de circular, os negócios ficam paralisados, o que acontecerá com os empregos e o PIB?
O Brasil está em clima semelhante ao dos anos 1980, com a dívida externa e sua outra face inflacionária. Tudo andava devagar. Agora a dívida está em reais, mas é gigante, e de novo andamos em clima de país endividado necessitando de dinheiro, sem alternativas para agir. Não há máscaras nem equipamentos necessários para os profissionais da área de saúde; tardiamente se percebe a importância da indústria nacional.
Congressistas e governadores demandam dinheiro, mas a renda da população em geral e dos servidores públicos se precariza. Quem está disposto a investir em produção? Exclua a carga tributária, baixe os juros e mesmo assim o importado produzido em larga escala chega mais barato. Mas o produto importado demanda dólares que estão em fuga, agora com cotação mais real.
Vivemos numa época que não preza mais a verdade. Estamos na era da pós-verdade, dos ataques à moral. O bullying e a infâmia são as armas desleais utilizadas por inimigos e pessoas de baixo nível que querem desorientar e confundir. Cada um que examine a si mesmo e às reações que teve quando atacado injustamente com falsidades e mentiras. É preciso uma forte couraça para se safar desse tipo de ataque.
Numa relação sadia com seus cidadãos, o Estado não deveria se agigantar para manter a população acomodada, desfrutando das migalhas enquanto os tubarões ficam com o filé. Um povo forte, bem preparado, não precisa de Estado grande que interfira em tudo, mas que defenda os interesses econômicos, culturais e espirituais da nação.
Dizem que o país está dividido e isso é natural porque antes todos estavam iludidos com as migalhas. Apenas uma parte abriu os olhos e viu a realidade; outros permanecem no engano. Tudo contribui para a cegueira: a imprensa, as TVs, as fakenews, mas principalmente a indolência do ser humano que vê e não quer enxergar, não quer ativar as próprias capacitações para analisar e refletir.
Passamos a importar de tudo, pois era mais simples e barato. Isso começou em 1995. Em menos de 30 anos acabamos com a indústria e o país enfraqueceu. Exportamos madeira, importamos móveis. A globalização foi o grande engano. Com dólar mantido barato artificialmente, as indústrias não puderam resistir à concorrência do importado feito com mão de obra barata. O poder está na economia produtiva não na especulação, que trouxe o desemprego, queda na renda e a precarização geral aceita pelos governantes, inclusive nos EUA.
A rota da decadência prossegue. O que fará a classe política? Será o fim do Brasil como pátria livre ou um recomeço?
(*) – Graduado pela FEA/USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). E-mail: ([email protected]); Twitter: @bidutra7.