Marcelo Senise (*)
Nos últimos anos, presenciamos a crescente influência da Inteligência Artificial nas eleições, gerando desafios significativos para a democracia em todo o mundo.
O caso emblemático do Facebook e as medidas adotadas por outros países ressaltam a urgência de estabelecer uma entidade nacional no Brasil para regular a IA nas eleições. Neste artigo, exploraremos os desafios democráticos impostos pela IA, relembraremos o impacto do caso do Facebook nos Estados Unidos e analisaremos as medidas adotadas em outros países para fornecer uma perspectiva abrangente sobre a necessidade premente de regulamentação.
O escândalo envolvendo o Facebook e a empresa de consultoria política Cambridge Analytica durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016 revelou a capacidade da IA de manipular a opinião pública. Por meio da coleta indevida de dados pessoais de milhões de usuários, a Cambridge Analytica utilizou algoritmos de IA para criar perfis psicográficos e direcionar mensagens altamente segmentadas. Esse episódio lançou luz sobre a exploração da IA como uma ferramenta de manipulação eleitoral e questionou a integridade dos processos democráticos.
Imagine o que a IA fez colocando de joelhos a maior e mais sólida democracia do planeta, isso a seis anos atrás, pensem no que ela poderá fazer com a frágil democracia brasileira nos dias atuais.
Diversos países ao redor do mundo têm tomado medidas para lidar com os desafios impostos pela IA nas eleições. A União Europeia (UE) promulgou o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR), estabelecendo diretrizes rigorosas para a coleta, armazenamento e uso de dados pessoais. Além disso, a UE está trabalhando na criação de um Código de Conduta sobre Desinformação, que busca combater a disseminação de notícias falsas e a manipulação da opinião pública.
A Índia estabeleceu a Autoridade de Dados e Inteligência Artificial, que supervisiona a proteção de dados e a governança da IA. Essa entidade visa equilibrar o progresso tecnológico com a privacidade e a segurança dos cidadãos indianos.
A China criou a Agência de Ciência e Tecnologia da China, focada na regulação e governança da IA. Essa agência tem o objetivo de desenvolver padrões técnicos, éticos e de segurança para promover o uso responsável da tecnologia e fomentar a inovação.
Diante desses desafios e das medidas adotadas em outros países, fica evidente que o Brasil precisa urgentemente estabelecer uma entidade nacional para regular a IA, especialmente em seu uso nas eleições. Tal entidade seria responsável por desenvolver e implementar diretrizes claras para o uso ético da IA em campanhas eleitorais, garantindo a transparência, a igualdade de oportunidades e a proteção dos direitos democráticos.
Além disso, a entidade deveria monitorar a segurança cibernética das eleições, implementando protocolos de auditoria e proteção contra ameaças cibernéticas. Essas medidas são cruciais para garantir a integridade do processo eleitoral e a confiança dos eleitores no sistema democrático.
Os desafios impostos pela IA nas eleições são uma realidade inegável. O caso do Facebook nos Estados Unidos demonstrou a manipulação e a influência da IA na opinião pública. Países ao redor do mundo estão agindo para enfrentar esses desafios, estabelecendo entidades reguladoras e implementando medidas de proteção. No Brasil, é imperativo que uma entidade nacional seja criada para regulamentar a IA nas eleições, garantindo a transparência, a equidade e a integridade do processo democrático.
Acredito que somente através dessa ação proativa podemos proteger nossa democracia e assegurar que o uso da IA seja benéfico para todos os cidadãos brasileiros.
Que nossos governantes, parlamentares, juristas e os cidadãos brasileiros não façam ouvido de mercador, e se mobilizem o quanto antes, para não corrermos o risco de depois chorar sobre o leite derramado. O assunto é imperativo e importante e merece ter eco nas forças vivas de nossa sociedade!
(*) É Sócio Fundador da Comunica 360º, Sociólogo e Marketeiro, especialista em comportamento humano e em sistemas emergentes, Big Data e Inteligência Artificial.