Hovani Argeri (*)
É evidente que o país perdeu, há poucos anos, a oportunidade de se aperfeiçoar, de tornar-se competitivo o que, em grande medida, passaria pelas reformas fiscal, eleitoral e previdenciária.
Agora, perdida a oportunidade para esses e outros avanços, que permitiriam um crescimento sustentável, chega o ônus: a hora é de cortar custos, principalmente entre os que não ajustaram suas contas quando o mercado estava aquecido. O crescimento vivido pelo país anos atrás fez com que as empresas elevassem seus custos. Parte disso resulta da busca por maiores receitas e maket share.
Outra razão é que, com o mercado aquecido, falhas gerenciais podiam passar desapercebidas. Agora, elas ficam evidentes e, por vezes, fatais. A recessão e a consequente queda da demanda fazem o foco administrativo passar do faturamento para as despesas. Manter a perenidade de um negócio passa pela espinhosa via do corte de custos. A urgência dessa ação, porém, pode levar a erros que, num primeiro momento, parecem acertos, ao aliviar o caixa. No futuro, porém, comprometerão a performance ou mesmo a permanência da empresa no mercado.
Cortes provocam alívios e impactos que devem ser mensurados não apenas no curto, mas também no médio e longo prazo. O mesmo se aplica a investimentos e contratações que, mesmo no cenário atual, não podem ser postergados. Uma ferramenta administrativa que permite essas análises é o TCO – custo total de propriedade.
Com ou sem crise, há investimentos em produção que não podem ser postergados. A aquisição por este ou por aquele bem ou empresa não pode basear-se apenas em preços, formas, prazos de pagamento e juros. Na metodologia TCO, são computadas despesas presumíveis com a implantação, como instalações, adaptações, customizações, ajustes necessários etc.
Também é preciso identificar aportes que a operação demandará, como treinamentos operacionais e administrativos, custos de manutenção, previsão de tempo de operação e gastos necessários com insumos. O detalhamento dessas variáveis identifica qual escolha proporcionará maior produtividade.
Dois pontos devem ser os balizadores de nossas ações corporativas, o primeiro é que se torna imperativo rever os custos, sob pena de não manter a empresa em operação. E o segundo ponto é que não se deve somente avaliar os custos iniciais, como o de aquisição. Pelo contrário, é preciso levar em consideração todos os outros custos que surgem após a operação, tais como custo de manutenção, vida útil, disponibilidade operacional, consumo de energia, perdas de insumos intrínsecos ao modo de produção, entre outros.
Tal tarefa não é fácil e muito menos agradável, porém é essencial e significa a vida ou morte de uma empresa. Tal levantamento envolve uma série de variáveis que possibilitarão a previsibilidade dos retornos e gastos de um investimento. No entanto, por mais óbvia que seja a importância deste tipo de gestão, pesquisas apontam que somente 3% das empresas levam em consideração tal mecanismo ao definir pela compra de um produto ou serviço.
Sejam cortes ou investimentos inadiáveis, o administrador tem de ter em mente não o futuro imediato, mas a perenidade da corporação ao longo do tempo. O alívio que cortes em equipes pode proporcionar neste ano pode ser muito inferior à necessidade de gastos futuros com treinamento e contratações de profissionais valorizados. Um bem que se mostra mais barato hoje pode não o ser ao longo de anos.
O momento demanda ajustes. Não pânico.
(*) – É consultor de empresas, mestre em finanças, advogado e atua como gestor comercial de multinacionais há mais de 20 anos.